domingo, 21 de fevereiro de 2010

Prateleira demasiado alta

É realmente interessante olhar para trás e reparar em coisas às quais na altura não dávamos a mínima importância. A sensação daquele toque, aquela surpresa que nos fazem e nos deixa com um sorriso para o resto da semana, aquelas mensagens que todos nós gostamos de receber mas só cada um de nós sabe o que verdadeiramente significam para nós, aquelas borboletas estúpidas que sentimos na barriga quando aquela coisa especial está para acontecer, aquele momento que não queremos que acabe nunca, aquele céu estrelado que não diz nada para o mais comum dos seres mortais. E de repente? De repente a vida dá uma reviravolta que só nós sabemos o que custa. Ao princípio parece ser só mais um dia mau, mas quando esse tal de dia mau se prolonga por mais tempo, é porque houve uma ruptura, uma ruptura da felicidade. As pessoas dizem-me “Leonor, tudo se vai resolver, o tempo fará as coisas acontecerem” mas o tempo passa e eu não as vejo a acontecer. A única coisa que eu vejo é uma simples rapariga à espera que tudo volte ao lugar e fique de novo perfeito. Preciso dessa paz e tranquilidade de que tantos falam, preciso de sentir coisas que me façam sorrir durante uma semana, preciso de um toque, de um simples olhar. Preciso que me digam que tudo ficará bem e ninguém me diz isso. Não sinto ninguém porque ninguém se faz sentir, não ouço ninguém porque esse alguém não se faz ouvir. Sinceramente? Não acho válido que nos tenhamos que desculpar ou justificar perante quem quer que seja, porque o que quer que seja que tenhamos feito, está feito e não são justificações nem desculpas que vão retirar esta ou aquela acção.
Cada um de nós é perfeitamente capaz de seguir em frente com a vida, seja qual for o obstáculo que parece impedir esse caminho, mas uns fazem-no com mais facilidade do que outros. Acho que os que o fazem mais facilmente, fazem-no porque colocam o passado numa prateleira demasiado alta. Não sei se isso é bom ou mau, só sei que não sou capaz de o fazer. Criticam-me por arrastar o passado para o meu presente e para o meu futuro, mas faço-o por achar que esta é a maneira mais fácil de viver. Não é colocando tudo aquilo que já foi numa prateleira demasiado alta que vamos conseguir viver uma vida sem sofrimento e preenchida de sorrisos, porque é nessa prateleira tão inalcançável que estão as memórias e recordações daquilo que um dia nos fez ficar com aquele sorriso tão perfeito. Por tudo isto e mais umas quantas coisas, tentem pelo menos, colocar essas benditas memórias num lugar mais seguro e acima de tudo, um lugar ao qual vocês consigam chegar, não vão elas ser precisas, num tal de dia mau.


Redigido a 30/Jan/2008

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