sábado, 21 de julho de 2012

Escolhe

Então, perdeste-te entre as memórias? Sei que são grandes demais, mas não chegam para tanto. Sabes qual é o problema? A fragmentação das coisas. Quando algo se parte em infinitos milhões de bocadinhos, é um bocado impossível que tudo voltar a ser como um dia foi.
Esta é a história da tua vida. Da minha. De vossa e da deles. É a história de todos nós que se fragmenta aos poucos sem dar sinais.

Tudo acontece e ninguém se apercebe.

Um dia olhas para trás e estás metido num buraco escuro e vazio, quando tentas chamar alguém, a tua voz ecoa e dissipa-se no ar frio da noite.

Um dia olhas para trás e tens três crianças pequenas correndo para ti a chamarem-te "papá". Não sabes o que fazer, já não aguentas o peso e só pensas: "Tenho saudades da solidão".

Um dia olhas para trás e vês a porta do tribunal. Tentaram durante tantos anos para depois acabar assim? Não queres viver, não queres mais nada.

A vista daqui é perfeita. Sem derivações adjectivais. A vista daqui é perfeita. Mergulhas no fundo do ser.. ou do Mundo, como preferires chamar-lhe. Ouves gritos desesperados bem ao longe e pensas em como tudo é tão melhor ali, tão mais apaziguador. Até a dor do sufoco e a falta de ar nos pulmões é apaziguadora. Tudo deixa de mexer. Tudo pára.

Tu páras. A dor pára. A morte dá sinais de vida e tu pareces sentir-te feliz pela primeira vez na vida. Ou na morte, como preferires chamar-lhe.

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