quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Ouvi Dizer

A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!


Ornatos Violeta

quarta-feira, 10 de março de 2010

Vista Panorâmica

Visualizem. Tiveram uma aula que dura até as 20h e ainda a semana vai a meio. Estão cansados porque acordaram cedo e já é de noite e ainda ali estiveram enfiados, com mais uns quantos que certamente partilham da vossa opinião e cansaço. Foi a meio dessa aula que comecei a imaginar. Visualizem. Acabou a aula e dirijo-me para o campo pequeno, a fim de apanhar o metro que me levará para o meu T1 com vista panorâmica para a grande cidade de Lisboa. Mal cheguei a casa e já sinto o calor e o tão típico cheiro a lareira. A fraca luminosidade do meu apartamento sugere um perfeito estado de calma e relax. Já sei o que vou fazer. Descalço-me e troco de roupa para o pijama. O frio que faz lá fora dá-me uma súbita vontade de beber um chá quente, com um aroma agradável, que me faça sentir que valeu a pena levantar-me da cama umas horas antes só para poder apreciar este momento. Corro as cortinas só até a meio, para deixar que as luzes da cidade se juntem a mim. A chaleira fez "click". Coloco uma saqueta de "Earl Grey" dentro de uma caneca e junto-lhe água e um pouco de açúcar amarelo. Sem quase me aperceber, passo alguns segundos a observar a difusão do conteúdo da saqueta, enquanto o CD da Diana Krall começa. É então que me dirijo para a sala e me sento no sofá bourdeaux de penas que se encontra virado de frente para a varanda. O meu corpo já está a começar a descomprimir e agora sim, posso pegar no meu livro, beber um golo de chá, enroscar-me numa manta e mergulhar no mundo da ficção, enquanto os carros e as pessoas se mexem velozmente lá fora. Para quê não sei, mas gosto de pensar que se movem por uma boa razão. Porquê? Porque tal como me sabe bem chegar a casa e aperceber-me que há realmente boas razões para me levantar cedo, gosto de pensar que aqueles apressados que se movem no frio da noite, também têm óptimas razões para acordarem cedo todas as manhãs.
Sabe tão bem sonhar, porque no fundo.. "tudo vale a pena quando a alma não é pequena".

10/03/2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Pessoas

Tenho dois ensaios académicos para redigir e uma boa quantidade de livros para ler. As ideias esvoaçam por aí, com medo de se tornarem reais. Conheço muita gente. Conheço pessoas gordas, magras, velhas e novas, de olhos claros, escuros e assim assim. Pessoas que sempre quis conhecer e outras que nem por isso. Pessoas despreocupadas e outras amarguradas. Mas todas possuem algo em comum. Não sei como chamar a esta característica que se mostra em qualquer rua, ruela, avenida ou viela onde eu passe. É uma característica comum, que descreve um povo e não uma pessoa apenas. Não vagueia solitária, pelo contrário. Faz-se acompanhar de muitas outras características que juntas me forçam a apelidar o povo português de sonhador. Sim, somos um povo sonhador. Conheço muita gente. Aqueles que sonham, aqueles que falam, aqueles que ouvem e ocasionalmente, encontro por aí aqueles que para além de sonharem, falarem e ouvirem, também realizam. Aqueles que sonham? Encontro-os perdidos por aí com as minhas ideias e tal como elas, têm medo de se tornarem algo. Embora perdidos, agrada-me o simples facto de existirem.

Redigido a 20 de Fevereiro de 2010

365

Um ano? São apenas 365 dias, nada que se possa comparar a uma década ou mesmo a um século. Mas pensando melhor, mesmo que sejam só 365 dias, tudo pode mudar. As pessoas sofrem, riem, choram, amam, mas acima de tudo, é necessário que aprendam com isso. Talvez seja parvoíce minha, mas é-me difícil adaptar a tudo aquilo que é novo e que me afasta daqueles de quem eu mais gosto. Querem um argumento? Não sei se servirá, mas.. Talvez por gostar demasiado daqueles que fazem parte da minha vida ou até por não saber classificar prioridades.
Há anos piores e anos melhores. Há aqueles em que tudo corre bem, e em que tudo se resolve como nós queremos e depois há aqueles..em que nada parece chegar, a nossa vida e as pessoas que dela fazem parte estão completamente viradas do avesso, contamos os minutos, horas e dias para que tudo volte ao normal, desesperados por não saber se acabará tudo bem. E depois temos aqueles anos das questões inacabadas. Sucedem-se normalmente a seguir a um “mau ano”. É aquele ano em que todos nós tentamos esquecer o passado, mas ele insiste em não se soltar de nós. Está bem que o passado é aquilo que nos faz ter memórias e recordações, mas às vezes não são, nem de longe, as melhores. Hoje sei que há milhares de coisas que eu podia ter evitado, mas também sei que outros milhares de coisas que eu nunca podia ter evitado, mesmo que agora esteja a sofrer com isso. Temos sempre a opção de fugir. Não, não é fugir de casa nem nada que se pareça. É fugir daquilo que nos atormenta, pôr um fim a certos episódios que tendem a repetir-se, nem que seja só na nossa cabeça. São aqueles episódios que nos fizeram incrivelmente felizes na altura em que aconteceram, mas agora daríamos tudo para que fossem uma mera ilusão.
Na verdade, fugir não iria resolver os problemas, apenas iria demorar a sua resolução. Mas visto que não há nenhum estudo científico nem qualquer teorização aprovada sobre “o que fazer quando o passado insiste em perdurar…quanto a vocês não sei, mas eu vou tentar viver a minha vida ao máximo e se algum dia surgir uma oportunidade de resolver as tais “questões inacabadas”, vou agarrar essa chance, com toda a força de vontade que tenho; Porque alguém um dia me disse: “Bora viver as nossas vidas por enquanto e pode ser que um dia tenhamos uma 2ª oportunidade”. Enquanto esse dia não chega, existem outros 364 para viver!


Redigido a 9/Dez/2007, 21:04

"Quase", de Sarah Westphal Batista da Silva

"Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase.
É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou.
Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.
Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cór, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos "Bom dia", quase que sussurrados. Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz.
A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.
Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.
O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.
Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém,preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.
Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo.
De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance.
Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.
Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu."

Prateleira demasiado alta

É realmente interessante olhar para trás e reparar em coisas às quais na altura não dávamos a mínima importância. A sensação daquele toque, aquela surpresa que nos fazem e nos deixa com um sorriso para o resto da semana, aquelas mensagens que todos nós gostamos de receber mas só cada um de nós sabe o que verdadeiramente significam para nós, aquelas borboletas estúpidas que sentimos na barriga quando aquela coisa especial está para acontecer, aquele momento que não queremos que acabe nunca, aquele céu estrelado que não diz nada para o mais comum dos seres mortais. E de repente? De repente a vida dá uma reviravolta que só nós sabemos o que custa. Ao princípio parece ser só mais um dia mau, mas quando esse tal de dia mau se prolonga por mais tempo, é porque houve uma ruptura, uma ruptura da felicidade. As pessoas dizem-me “Leonor, tudo se vai resolver, o tempo fará as coisas acontecerem” mas o tempo passa e eu não as vejo a acontecer. A única coisa que eu vejo é uma simples rapariga à espera que tudo volte ao lugar e fique de novo perfeito. Preciso dessa paz e tranquilidade de que tantos falam, preciso de sentir coisas que me façam sorrir durante uma semana, preciso de um toque, de um simples olhar. Preciso que me digam que tudo ficará bem e ninguém me diz isso. Não sinto ninguém porque ninguém se faz sentir, não ouço ninguém porque esse alguém não se faz ouvir. Sinceramente? Não acho válido que nos tenhamos que desculpar ou justificar perante quem quer que seja, porque o que quer que seja que tenhamos feito, está feito e não são justificações nem desculpas que vão retirar esta ou aquela acção.
Cada um de nós é perfeitamente capaz de seguir em frente com a vida, seja qual for o obstáculo que parece impedir esse caminho, mas uns fazem-no com mais facilidade do que outros. Acho que os que o fazem mais facilmente, fazem-no porque colocam o passado numa prateleira demasiado alta. Não sei se isso é bom ou mau, só sei que não sou capaz de o fazer. Criticam-me por arrastar o passado para o meu presente e para o meu futuro, mas faço-o por achar que esta é a maneira mais fácil de viver. Não é colocando tudo aquilo que já foi numa prateleira demasiado alta que vamos conseguir viver uma vida sem sofrimento e preenchida de sorrisos, porque é nessa prateleira tão inalcançável que estão as memórias e recordações daquilo que um dia nos fez ficar com aquele sorriso tão perfeito. Por tudo isto e mais umas quantas coisas, tentem pelo menos, colocar essas benditas memórias num lugar mais seguro e acima de tudo, um lugar ao qual vocês consigam chegar, não vão elas ser precisas, num tal de dia mau.


Redigido a 30/Jan/2008