quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Serviço público português, o novo Alentejo

Dia 14 de Dezembro bloquearam-me o carro perto da Av. de Berna. Obviamente mais que chateada com o sucedido, fui correndo até à dita viatura, para poder pagar e seguir para a faculdade. Nisto, leio: "60€" assinalado como preço a pagar pelo desbloqueamento, sem reboque. Ora pois assim fiz. Liguei para o número que o grande papel autocolante amarelo indicava e o atendedor automático lá me disse que sim, que o meu carro iria ser rebocado dentro de alguns minutos. Esperei, esperei e esperei mais um pouco (mentira, foram 45 minutos), até que a carrinha da imponente EMEL chegou. Nisto, preparava-me para pagar os ditos muito mal empregados 60€ de multa, quando o senhor me diz "são 90€, minha senhora" e eu boquiaberta respondi "eu peço desculpa, mas só tenho mesmo os 60€, que era a quantia que estava escrita no papel". "Pois, mas são mais 30€ de multa de falta de pagamento" e assim, apreenderam-me a carta de condução (e já aqui me questiono sobre que autoridade têm para o fazer), dando-me uma guia para poder continuar a conduzir e disseram para depois pagar e levantar a carta na 'MINHA ÁREA DE RESIDÊNCIA'. "Sintra", pensei. Para que não restassem dúvidas, liguei então para a conservatória de Sintra e de seguida, para o registo. Nunca ouviram falar de apreensão nenhuma por parte da EMEL e que não era nada com eles. Posto isto, liguei para o número que a caríssima empresa de pagamento de Lisboa pomposamente exibe nos seus panfletos e declara estar disponível durante todo o dia, até às 18 horas. Encerrando para hora de almoço às 13 horas, liguei ainda da parte da manhã, para poder esclarecer tudo e resolver até ao final do dia. Na verdade, deviam tirar a palavra "atendimento" do horário, porque às 12.30 horas liguei cerca de cinco vezes e ninguém me atendeu, o que só me faz pensar que o almoço dos caros funcionários começa bem mais cedo do que as horas estipuladas. Não tendo conseguido resolver o meu problema, decidi ligar à tarde, por volta das 17 horas. Nessa altura atenderam-me e uma senhora muito pouco educada e muito pouco prestável, informou-me que deveria ir buscar a carta ao 'GOVERNO CIVIL da MINHA ÁREA DE RESIDÊNCIA'. Ora pois que nunca existiu um governo civil em Sintra, portanto insisti que a informação que me estava a ser dada, era errada. Nada consegui mudar, porque a senhora repetiu tudo, como se de um robot se tratasse e como se estivesse a ler algo e não a esclarecer um utente, que é para isso que certamente lhe pagam - e ao que parece, para almoçar mais cedo também. Assim sendo e sabendo que a senhora não tinha em nada contribuído para a resolução do meu problema, recorri à internet e pesquisei por 'governo civil lisboa', pelo que me apareceu um site com dois números de telefone: um da própria sede do governo civil, e outro de um outro posto que trata somente de casos rodoviários. Assim, liguei de imediato para o segundo número do site e o senhor prontamente me indicou o caminho para lá e o horário de atendimento. Fechava às 16 horas e eu cheguei às 15.30 horas, mas mesmo assim tirei senha, esperei a minha vez e fui atendida, unicamente para receber o papel que me indicaria quanto e onde pagar a dita multa. Os CTT eram o local indicado para pagamentos em dinheiro e então lá fui. Entrei numa porta a uns escassos metros e deparo-me com um cenário muito próprio dos serviços públicos: 4 guichets de atendimento: um vazio e 3 deles com funcionárias a trabalhar. Ora pois que havia senhas para determinar a vez de cada um na fila, mas na verdade, era só uma questão de ordem de chegada. Apenas uma das senhoras estava a atender, enquanto as outras duas falavam sobre unhas e pés e mais umas coisas que não apanhei. E lá estava eu, a queimar tempo com mais de dez pessoas à minha frente e duas senhoras a queimarem o seu, com conversas de pés e unhas. Entretanto já passava das 16 horas e o levantamento da carta teria que ficar para outro dia. Conheço - pessoalmente e outros só de vista - vários funcionários públicos que se matam e esfolam a trabalhar para servir as pessoas e para as atender devidamente, mas depois, caem-me casos destes na sopa. 

Tenho outra história muito engraçada, que não me aconteceu uma só vez, mas sim umas três ou quatro, portanto presumo que já seja praxe da casa. É muito raro ir ao centro de saúde e quando vou, é para ir buscar receitas que foram ou antibióticos para a amigdalite própria de todos os invernos. Então isto é o que se passa: São mais ou menos 15 horas e a sala está vazia, os murmúrios por trás do balcão são a única coisa audível. Aproximo-me do dito balcão e a senhora diz-me "Tem que tirar uma senha e aguardar a sua vez" e eu digo "desculpe, mas não está cá mais ninguém..." e ela repete "tem que tirar uma senha e esperar". Faço o que me mandam, mas na minha cabeça, continua a ecoar a minha próxima resposta: "mas não está aqui ninguém para ter que existir uma ordem à base de senhas!". Calo-me, tiro a senha e espero agora a minha vez. Falam da filha que está constipada e que hoje não foi à escola, do marido que tem trabalhado muito e que ontem estava frio e a porta do centro esteve aberta e que era por isso que estavam todos a tossir. A sala continuava vazia e assim continuou até que resolveram chamar-me quando a conversa já estava a saturar. Lá fui e lá me atenderam, a muito custo. 
E assim funciona um dos serviços públicos mais importantes de Portugal. Por meio de senhas que têm obrigatoriamente de ser distribuídas... pela única pessoa que está na sala. 

O tempo que demoraram a ler estes textos, não foi nem perto daquele que gastei a conduzir, telefonar e conversar com pessoas que dizem "servir a população portuguesa", quando no fundo, estão só sentadas, há espera que o tempo passe e que chegue a hora do 'ir embora'. 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Vamos brincar às políticas em Portugal

Ás vezes questiono-me sobre quanto da língua portuguesa os dirigentes de determinado partido sabem. Na minha modéstia de pessoa interessada pelo vocabulário português e com aquilo que é possível fazer com ele, acho que certas coisas começa a cair no ridículo. Esse tal partido tem um novo cartaz que diz o seguinte: "A Troika manda ROUBAR AO POVO E DAR AOS BANQUEIROS". E agora pergunto se saberão o que quer dizer roubar. A liberdade de expressão é um dos pontos vitais para o funcionamento de uma democracia, mas então também é preciso que as pessoas ganhem noções e deixem de 'expressar' tudo o que lhes vai na cabeça, porque liberdade de expressão é apenas o meio utilizado para a troca de conhecimentos, ideias e fazer com que se tomem decisões através do debate e da discussão. Bem, isto então para explicar que começa a ser realmente inacreditável continuar a ver posters e cartazes com frases de apoio a uma coisa que nem sequer consegue existir, dadas as circunstâncias económicas.
Outras vezes, ponho-me só a pensar "será que pensam ser possível implementar os seus ideais?" Sei que a diversidade partidária é um factor positivo, mas a pluralidade polarizada não o é.
Este último palavrão é a definição daquilo que melhor caracteriza a política portuguesa. Em Portugal, se  X e Y são rivais, nunca será mantido um acordo ou qualquer tipo de parcerias políticas, pois o que conta é quem manda e não o que essas mesmas pessoas propõem e fazem. Aqui, não há possibilidade de coligações entre Bloco de Esquerda e PSD ou PS, mas curiosamente, é com esse mesmo tipo de coligações que funcionam muitos dos governos europeus. É realmente impossível adorar todas as medidas de austeridade impostas pelo actual governo. Mas por outro lado, não percebo muito bem porque é que existe esta necessidade de resmunguice e de constante desacordo entre os partidos políticos de Portugal. Esta pluralidade polarizada tem muito que se lhe diga, mas só se percebe bem lendo um famoso livrinho do Hallin e do Mancini, que vem desafiar a conhecida teoria dos seus antecessores. Os autores fazem um estudo comparativo - considerado um dos melhores na área - sobre essa dita pluralidade e como as coligações e entendimentos resultam bastante melhor do que a luta de um ideal utópica sob a forma de discórdia constante. 

Abaixo, deixo-vos então o tão politicamente correcto cartaz do tão conhecedor da epistemologia das palavras Bloco de Esquerda e acaba a chamar ladrões a pessoas que de momento, controlam as finanças de Portugal. Na verdade, tudo isto se parece muito com jogos de tabuleiros, daqueles que entretém e em que existem aliança e inimigos e lutas pelo poder. E assim se faz política em Portugal.



segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Criação de novo partido em 2012

"Duzentos militantes do Bloco de Esquerda vão abandonar o partido e prometem formar uma nova força política", adiantou a RTP Informação no passado domingo. Ao ser entrevistado, Gil Garcia, o líder do movimento, mostrou-se insatisfeito com as políticas internas do BE, mais especificamente de Francisco Louçã.
Para ser sincera, nem sei bem que reacção tive enquanto assistia à entrevista, pareceu-me surreal demais. Primeiro, porque acho que os bloquistas já estavam um pouco mais à frente, no que toca a credibilidade política (até já tinham representatividade parlamentar!) do que estavam há uns anos, e depois, porque não sei muito bem onde é que Gil Garcia quer chegar com esta ruptura interna. Justificava-se se estivéssemos a falar do PS, que tem mostrado ter das mais variadas linhas de pensamento, dependendo da pessoa; mas com o BE não se percebe. A bem da verdade, nunca foi um partido que alguém alguma vez esperasse ver a dirigir o país, mas lá tinham os seus ideias bem demarcados e sempre me alegrava ver que não mudavam a sua posição, independentemente de mudanças a si exteriores (não, calma... Isso é o PC). Louçã foi acusado por Garcia de ter apoiado Manuel Alegre nas últimas eleições presidenciais, mas então, quem se esperaria que ele apoiasse? Ninguém? Bem, na verdade é mesmo isso que o líder do movimento Ruptura/FER desejava, que o BE se tornasse num Partido Comunista, só que com pessoas mais novas na liderança. 
Agora pensemos no que pode nascer a partir da mente deste idealista tão ferrenho. Será que vai avante com as suas teorias e acaba por conseguir mais do que Louçã conseguiu em anos de luta pelo mínimo de credibilidade dentro da esfera política séria (ou não) em Portugal? Não estou aqui a tomar partidos e a denunciar as minhas escolhas políticas pessoais, apenas a tentar descobrir alguma lógica e coesão no plano de Gil Garcia para 2012. 
'Acusando' Louçã de ter apoiado o socialista nas presidenciais, pouco faltou para que Garcia o chamasse de vendido, mas é um facto que as coligações devem ser bem escolhidas e na minha opinião, isso é uma das principais lacunas no sistema político português. Ainda que todos tenham vontade de fazer como na primária e mandar a chanceler alemã encostar-se à parede de costas voltadas e só voltar para a mesa quando se aperceber das barbaridades que tem feito, a verdade é que na Alemanha, existem fusões partidárias que seriam completamente impensáveis em Portugal. Quase todos os partidos têm representatividade parlamentar e no que toca a governar, quase todos opinam e votam sobre leis e acordos a fazer. 
Um dos principais problemas de Portugal é precisamente termos um sistema pluralista polarizado. Pondo isto por miúdos, quer dizer que temos sempre os mesmos partidos no poder e a escolha nunca diverge muito de um para o outro. Na prática, ambos têm aquilo a que chamamos ideais de 'centro-direita'. Outra das características deste sistema, é a não concordância constante entre os membros das assembleias e do parlamento. Nessas situações, o que conta são os partidos a que pertencem e as rivalidades que existem e nunca são as ideias e propostas que têm. Neste país, não está contra ou a favor de ideias, está-se contra e a favor de pessoas.
Num Portugal ideal, as propostas colocavam-se numa balança e todos os partidos decidiriam de acordo com os prós e contras da proposta, e não de acordo com quem a fez. 
Outras das questões feita pela jornalista que entrevistou o líder da FER, incidiu sobre possíveis coligações poderiam ser feitas com suposto novo partido a formar. Garcia respondeu 'PCP' e eu pergunto-me que frutos dará essa fusão. Uma das respostas mais realistas será 'Nenhuma', tendo em conta a estagnação em que os comunistas se encontram. Ainda que os militantes e apoiantes do PC tenham a função de equilibrar a balança de votações nas eleições, continua a parecer-me uma péssima escolha por parte de Garcia, mas ideais são ideais e ao menos alguns continuam a segui-los à risca... E talvez até demais.
Hoje em dia, em vez se pensar nos partidos e nos deputados por ideias e teorias, começou a pensar-se em termos dos 'mais corruptos para os menos corruptos'. E assim se faz política em Portugal.

Esperemos para ver no que resulta esta divisão do Bloco de Esquerda e em 2012 teremos então mais um partido político à mistura.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Saramago não é o fim

Não pude deixar de reparar que fui ligeiramente 'categórica' quando disse que em Portugal não se faz quase nada bem feito. É mentira. Aliás, não é, mas não posso deixar de pensar que posso ser mal interpretada ao dizê-lo, porque na verdade, todos os dias vejo bons projectos a serem pensados, delineados e a serem quase levados para a frente, para passarem da teoria à prática, mas isso depois acaba por não acontecer. 
Acaba por não acontecer porque o governo não tem dinheiro porque está em crise e por consequência, as organizações privadas que costumam financiar projectos do género, também não o fazem porque 'estamos em crise'. Não tendo nada a ver com isto, não posso deixar de dizer que acho que existe uma área em Portugal que está a evoluir brutalmente - tanto em qualidade, como em quantidade. A literatura. Nomes como Valter Hugo-Mãe, Rentes de Carvalho, Pedro Peixoto ou Pedro Paixão inserem-se em géneros completamente diferentes e muitas vezes mesmo antagónicos, mas na minha opinião, não deixam de ser todos autores sublimes, por razões diversas. Rentes de Carvalho é um dos escritores emigrantes portugueses que melhor descreve Portugal a partir de uma vertente muito pouco discutida: o interior do país. De Valter Hugo-Mãe, que não se espere uma literatura light porque não o é. Não me considero no direito de 'catalogar' os escritores que mencionei, só de delinear a minha opinião sobre os mesmo e filosofar sobre as vertentes que acho mais interessantes em cada um. Recentemente, li 'Sinais de Fogo', de Jorge de Sena e ainda hoje, não acredito que tenha sido escrito na altura em que foi, dentro do contexto social e político em que foi. O autor fala da guerra civil de Espanha, de sexo com amor, de sexo sem amor, de pensamentos próprios de um adolescente incompreendido por adultos demasiado velhos, de Coimbra ter quase a mesma importância que a capital Lisboa, do significado de 'estudar fora' ser sempre dentro. 
Fala-nos de uma forma tão humana e tão literária ao mesmo tempo, que é difícil não nos colocarmos ao lado do narrador e não pensarmos "eu também falo assim de vez em quando". Concordo com a teoria de que não fica bem colocar palavrões em obras literárias, mas Jorge de Sena consegue escrevê-los de uma forma tão utilitária, que perde o sentido feio e nojento que é de costume incutirmos. Em suma, consegue fazer com que os jovens se identifiquem e os mais leitores mais velhos retrocedam no tempo e se apercebam que ser adolescente não pode ser esquecido e mantido na penumbra de um passado distante.
Dantes não gostava de literatura portuguesa. Tinha um preconceito estúpido que ainda estou para saber onde nasceu - começo a desconfiar que foi no secundário, quando me apresentaram grandes autores e obras portugueses com uma falta de entusiasmo gritante. Achava que tudo o que era escrito em português tinha de ser escrito daquela certa maneira e com aquele estilo específico, até que abri os meus horizontes e me apercebi que a literatura portuguesa não acabou em Saramago ou Sttau Monteiro. A literatura portuguesa continua e muito bem, continua a avançar e se as organizações e o governo quiserem, de vento em popa. E se a crise também ajudar, claro.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Portugal tem publicidade que dá vontade

O que ainda por cá funciona

Um bocado em jeito do que uma amiga minha publicou no facebook, pus-me a pensar no quão fantásticos são os anúncios e mesmo o ramo da publicidade em si. Estive a pesquisar anúncios antigos que tenham dado que falar, mas não encontrei metade deles. Cheguei à conclusão que os portugueses têm realmente jeito para aquela monstruosa indústria que é a publicidade. Chato nos anúncios televisivos são as circunstâncias em que são vistos e a pouca atenção e admiração que os telespectadores, em grande parte devido à enorme percentagem de má publicidade que se faz (tomemos como exemplos os anúncios a detergentes de roupa e louça, lixívia e tantos outros produtos de limpeza e cuidado doméstico). Sei que o target é um dos principais pontos a ter em conta durante a produção de um anúncio, mas a verdade é que muitas vezes, a originalidade se sobrepõe à utilidade e os anúncios tornam-se apelativos só por isso mesmo.
Entretanto, é importante dizer que a originalidade não advém só dos produtos em si, mas sim de muitos outros factores em que é engraçado reparar quando vemos um anúncio. A indústria de publicidade (neste caso, televisiva) em Portugal tem evoluído em grande escala, nos últimos anos e estranhamente, tem a ver mais com as marcas e empresas em questão e não tanto com as campanhas por si só. Isto quer dizer que se pode 'catalogar' aquilo que considero bons anúncios pela marca/empresa que representam. Sumol, EDP, as cervejas e as redes portuguesas Sagres, Super Bock e Vodafone e Optimus têm tido das melhores campanhas publicitárias da últimas décadas. Não podemos focar-nos tanto nos actores nem na marca que é publicitada, mas sim no cenário onde é filmado, o diálogo que é usado e por último, a música que é escolhida. Nestes casos particulares, a música tem tido um efeito bastante positivo para o sucesso. Outra das vertentes publicitárias a que devemos prestar especial atenção pela originalidade com que são feitos e pela forma como são nus de qualquer preconceito, é a publicidade institucional.

Abaixo, deixo-vos dois links de anúncios que já devemos ter visto e revisto (talvez com bastante enfado) na televisão portuguesa e que acho simplesmente geniais, cheios de vida, de conceito e de ideais que valem a pena. Tratam-se se um anúncio da Super Bock e de um anúncio institucional, a favor do uso do preservativo, respectivamente.

Afinal, os portugueses ainda têm força de vontade, vontade de fazer bem, vontade de ver bem feito e vontade de trabalhar, de se esforçarem para que a originalidade deixe de ser só um meio de atingir um fim e começar a ser esse mesmo fim.

É umas das grandes coisas que funciona neste país onde poucas coisas funcionam.






segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Aquele que queria menos que nada

Porque é que todos os dias queremos coisas diferentes e formas diferentes de ver as mesmas coisas? As coisas são assim e a culpa é nossa. É nossa de as querermos mudar à força e é nossa de nos preocuparmos de mais. Um dia destes ele gostava de não se preocupar. Sim, virar as costas a tudo e simplesmente desligar. Gostava de pegar numa mochila e passar a Ásia a pente fino. Exactamente, de uma ponta à outra. Há qualquer coisa naquela calmaria que o intriga, que o faz querer perguntar a pessoas que não lhe sabem responder. No dia em que desligar, desliga para ti, para mim, para ela e para todos os outros, desliga para o mundo e com o mundo. Vai deixar de se inquietar com notícias sobre catástrofes, de se animar com os novos produtos para estética masculina que e de se preocupar com este ou aquele, que perdeu o gato na árvore, o cão debaixo do carro e o coelhinho na panela. 
Se ele pudesse, fazia como o tipo de 'Café Instantâneo' de Pedro Paixão e "zangava-se. Isolava-se. Passava a não ter relações. Passava a ser um nobre eremita, sem relações íntimas nem ambições. Qualquer ambição sugere-lhe logo a preguiça e a certeza da derrota merecida. Se pudesse tornava-se irascível, sarcástico e impossível de aturar. Em vez de não o convidarem para não se lembrarem dele, passavam a não o convidar por se lembrarem demasiado bem dele. Queria passar a sofrer da solidão de não querer."

domingo, 4 de dezembro de 2011

As palavras certas pela boca errada

O Secretário de Estado da Juventude e do Desporto, Alexandre Miguel Mestre disse num qualquer sábado passado que os jovens portugueses deviam emigrar, sair da sua "zona de conforto". No fundo, o discurso é verdadeiro e assenta em factos reais, para além de ser incrivelmente actual. Existe só um pequeno aparte: saiu pela boca errada. 
Supõe-se que Alexandre Miguel Mestre já tem dedos de testa suficientes para saber que é impensável fazer uma afirmação pública daquele teor. Hoje em dia fala-se em troika, em austeridade, em crise económica, em instabilidade da União Europeia e todas as outras desgraças com que tantas vezes somos presenteados no telejornal. Ainda dentro do tema da crise, mas para que o assunto não cansasse os portugueses, o responsável da Juventude e do Desporto decidiu que o seu discurso deveria incidir precisamente na Juventude (e não tanto no desporto, pelos vistos). 
A verdade é que os jovens portugueses (e falo por mim também) enfrentam graves problemas quando chega a altura de arranjar um emprego e isto está presente em várias situações. Muitos dos sistemas universidade-1ºemprego não estão minimamente bem estruturados e os cursos de ciências sociais e humanas são, no geral, um bom exemplo disso. Para se adquirir a carteira de jornalista, é necessário fazer 12 meses de estágio curricular (que se pressupõe ser feito no final da licenciatura), mas as coisas não se processam exactamente dessa forma.
Primeiro, porque uma das coisas mais difíceis hoje em dia é arranjar um estágio (remunerado ou não), porque as redacções, cadeias de televisão e estações de rádio já estão atafulhadas de gente. Mas este não é o ponto fulcral do meu comentário. O meu comentário incide especialmente sobre casos em que a licenciatura não foi de Ciências da Comunicação ou de Comunicação Social. Tirei Línguas, Literaturas e Culturas e estou a fazer o mestrado de Jornalismo. Supõem-se então que também terei um estágio obrigatório de 12 meses, mas na verdade, preciso de um de 18 meses para estar apta a ter carteira de jornalista. O ponto essencial é este: quem, no seu perfeito juízo, vai colocar uma jovem aspirante a jornalista sem um curso ligado à área, a estagiar? Ninguém. E esse é precisamente um dos problemas hoje em dia, determinadas regras, burocracias e passos a seguir que não fazem sentido e na minha opinião, precisam de uma reestruturação para funcionarem a 100%.
Em Portugal, ou se é o melhor finalista do curso X ou Y, ou se conhece o presidente de um qualquer tipo de órgão ou associação importantes. Realmente é verdade o que o Sr. Secretário disse, concordo plenamente. Mas aí está a diferença. Eu não faço parte de um governo que gere um país em crise. Eu faço parte de uma geração pouco apreciada. Lá fora as coisas funcionam de outra maneira. Aliás, basta que funcionem para se notar a diferença. Este país não deixa que os mais novos dêem ideias e principalmente, que sejam pro-activos. Lá fora toma-se atenção a ideias pioneiras, a projectos ambiciosos e a novas políticas de trabalho e de investigação. Cá dentro faz-se o que se pode e o que se pode fazer hoje em dia não chega para essas pessoas ambiciosas e com bons projectos para apresentar. Por isso sim, concordo. Vamos para fora deixar que nos ajudem a tornar as nossas ideias realidade. Isto sou eu que digo, mas não aconselho que o Sr. Secretário de estado da Juventude e do Desporto volte a mencionar esse assunto, porque será a morte do artista.
Uma coisa sou eu, que posso passar bem por jovem desempregada revoltada, outra coisa são eles, que têm o dever de tentar não agravar a situação.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Melhor na tela que no papel

Está bem que a obra conjunta de Charles Dickens lhe valeu um lugar no mundo académico das línguas e das literaturas anglo-saxónicas um pouco por todo o mundo, mas neste caso, o mérito é do realizador de cinema. Alfonso Cuáron adaptou a obra 'Great Expectations' para cinema, em 1998.
Desde 1917 que vários cineastas adaptaram o título para a película, mas a melhor das interpretações - que não é necessariamente a mais fiel - é mesmo a de Cuáron. O realizador juntou a sensualidade de Gwyneth Paltrow e a ingenuidade da personagem de Ethan Hawke e conseguiu um filme que dá prazer ver e vontade de rever vezes sem conta. 
Este é um dos raros casos em que o filme supera o livro e acho que neste caso, em grande escala. Gwneth Paltrow (Estella) personifica uma elegante e inteligente mulher, cheia de boas maneiras que a sua 'encarregada' lhe incutiu e ensinou. Regras de boa etiqueta aliadas a uma educação classico-europeia rígida durante a infância e adolescência tornaram Estella numa mulher com poucos amores e muitos dissabores. Ethan Hawke encaixa que nem uma luva na personagem de Finn, criada por Dickens. Num registo bastante mais actual, a obra cinematográfica não perde pontos por não fazer jus ao original do escritor britânico. Atrevo-me até a dizer que melhorou o seu enredo, por possuir personagens que carregam mais robustez e marcas de vivências bem mais delineadas e claras. Se calhar foi só sorte no casting, mas Paltrow e Hawke parecem ter sido escolhidos a dedo para encarnarem Estella e Finn. Na verdade, fazem até um bom casal.
Uma das coisas que mais chama a atenção na película de 1998 são as paisagens intocáveis de um qualquer estado unido onde parte do filme se passa, a casa onde Estella cresceu e a sua tia envelheceu ao longo dos anos, tornando-se numa das figuras mais emblemáticas da história, responsável por incutir determinados pensamentos e teorias e de marcar a vida de Estella com as mesmas. 
Desconhece-se o final de 'Great Expectations' no cinema, mas quer-se acreditar que se trata de um bom final, de um final com significado, já que durante o filme, o autor nos confunde através de jogos psicológicos e sexuais. Confunde amor com paixão e com atracção e leva-nos a pensar que a classe social e intelectual vale mais do que o sentimento. Do final só Cuáron pode falar, mas todos nós somos livres de fazer as previsões. E um filme que vale sempre a pena ver, ainda que não seja tão 'exclusivo' e 'original' como a Árvore da Vida ou os filmes do tão aclamado Almodôvar.
Mais ou menos fatalista, 'Great Expectations' excede mesmo as expectativas e decerto que fará o mesmo a quem gosta de dramas românticos de qualidade. 

Abaixo, deixo o trailer, que pode não exceder as expectativas, mas vai certamente abrir o apetite a quem ainda não está convencido.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Nneka. What? 'Say it again..' please

Letras misturadas com sons 'areggaezados' que não se percebem e um nome em que raramente se acerta na pronúncia. Nunca se sabe muito bem se se há-de gostar ou de odiar Nneka, a cantora nigeriana que passa mais ou menos em todas as rádios portuguesas.
Nneka é muito mais do que a música "Heartbeat", da banda sonora de Morangos com Açúcar. É um apelo à luta nacional na Nigéria, é muito mais que um conjunto de batidas e vozes. É um conceito que mistura luta pacífica e boa música. 
Começou por trabalhar com Sean Paul e outros que tal (afinal, todos temos de começar por algum lado!), até que lhe deram asas para voar sozinha e em 2005 gravou o primeiro álbum a solo. Depois de três discos lançados, a cantora nigeriana continua a ser uma figura de ascensão no mundo da música mundial. Muitos estilos sonoros à mistura - um pouco de blues, mais um pouco de reggae e umas batidas de hip hop e de África - e uma forte corrente de luta étnica traduzem a força de Nneka e o sucesso que tem tido em todo o Mundo, com o seu último CD, 'Soul is Heavy', lançado este ano. Para além das performances a solo a que tem tido direito durante a tour de 2011, Nneka também participa regularmente em espectáculos e concertos com Damian e Ziggy Marley, General Steel e mais uns quantos nomes sonantes da esfera musical nossa conhecida.








Uma Lisboa Perdida

Poema de Viriato Ventura e música de Sam the Kid. Lembram a reestruturação do Cais do Sodré, esforço de retratar outros tempos. Tempos de promiscuidade e adultério assumidos entre marinheiros e prostitutas, ginjinhas, cervejas e boa disposição, em ambientes kirsch quanto baste. 2011 manteve as cervejas e a boa disposição, mas tratou das prostitutas e dos marinheiros e relembrou-nos que a decoração kirsch afinal não é assim tão má. O bar Pensão Amor é capaz de se tornar na próxima tendência preferida dos lisboetas para uma noite bem passada, bem como o Bar da Velha Senhora, tudo num movimentado e refrescante Cais do Sodré.


"Onde estão os meus amigos?
Remotas memórias
Saltitam
Pululam
Cheiros, odores, miragens
O café, o sorriso
"Olá como está!"
E outras encenações
A novidade: A vizinha do 3º fugiu,

Amanhã vem no jornal

Ai..a imperial da Munique
Os destemidos tremoços
Moços, maçons
Canalha / navalha
Pensa coração
Amigos onde estais?

A sueca com minis à mistura
O relato da bola
A malha, copo de 3
A feira do relógio
O relógio da feira
Sandes de couratos, vinhos de Torres
Jogging de Marvila

Domingo
Especialmente domingo
Barbeados, dentes lavados
E martinis no plástico labrego
Alumínio / moderno / kitch / mau gosto
12 cordas, mãozinhas
Salteadores da razão perdida
Perdidos, enjaulados
Correio da manhã
O cú da vizinha do 9ºB,
Regalo para a vista
Suplemento a cores com salários em atraso

E a Lisnave, petroquímica
Cancros do meu Tejo
Apodrecendo lentamente o azul das águas e eu impotente


Cinemascope e 35 milímetros de mim
A raiva afogada entre cubaslibres e pernas de mulheres
Que não são putas nem são falsas nem são nada
São pernas de mulheres e cubaslibres simplesmente

Paga-se a saudade com cartão de crédito

Táxi, leva-me para onde está o meu amor
Táxi, leva-me para lá de mim
Táxi, atropela-me os sentidos e a alma para não deixar vestígios"


By Viriato Ventura, em 'Praticamente', de Sam the Kid

sábado, 26 de novembro de 2011

torradas com leit(uras)

Nunca gostei de frio. Nem de frio nem de chuva. E muito menos de vento. Onde eu nasci não há disso, só há chuva quente e bafo em vez de vento. Mas não interessa onde eu nasci, nem as características meteorológicas do dito local. Era uma quarta-feira como tantas outras, mas ao contrário do que tinha acontecido nos dois dias anteriores, hoje fazia sol e parecia não estar frio. O sol aquecia-me os pés debaixo do edredon. Sim, às 4h da tarde eu estava enfiada dentro da cama com o computador como única companhia e de repente senti-me deprimida, senti que não podia continuar ali. Queria ser quem passa, em vez de ficar a ver aqueles que passam. Enfiei-me dentro de uma qualquer camisola daquelas que se dizem de inverno, bem quentes e pesadas, que têm aspecto de ser a companhia perfeita para o pólo norte. Ao mesmo tempo, pensava qual era a esplanada ideal para ler e lanchar (sim, não queria mesmo ficar em casa!). O colombo acabou por não ser a pior escolha de sempre - até porque as esplanadas não estão propriamente atulhadas de pessoas com aspecto duvidoso, como às vezes o centro está - e estive muito bem, até. Bem, mas o frio, da camisola e das minhas leituras com torradas não interessam para esta história. O que interessa é que mais uma vez, questionei-me porque é que os portugueses não andam à noite na rua, não passeiam e não conversam em esplanadas à noite. Que raio de conceito é que se instalou desde há uns anos para cá, que fez com que esta tendência se alargasse e acabasse mesmo por proliferar? Continuo intrigada com esta questão, mas ainda não tenho uma resposta decente e que faça sentido. Não venham com os assaltos e carjackings, porque não me soa a justificação plausível. Não, nem o vento, frio ou chuva roçam o plausível porque como sabem, nunca gostei de frio, porque onde nasci não há disso. Só chuva quente e bafo em vez de vento.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

"Ah também és de Macau?"

"Ahh também és de Macau? Então deves conhecer aquele gajo..."

Na teoria, sou de macau, mas vivo em Portugal faz anos. Em conversa com o meu primo e mais duas amigas aqui da terra, chegámos à conclusão que de que quem viveu - e mesmo aqueles que só por cá passaram - em Macau, mesmo que se conheçam à coisa de uma semana e picos, são todos muito amigos. Digo isto por experiência própria, porque já não consigo contar pelos dedos a quantidade de gente que digo "sim sim, é meu amigo, conheci-o em Macau!" quando no fundo, não vivo aqui desde os oito anos e contam-se pelos dedos os amigos de infância.
Mas há sempre dois lados numa mesma moeda: acontece dizermos que conhecemos toda a gente, mas se chegarmos a Macau e ninguém nos conhecer, somos logo estranhos... e não nos entranhamos. Existe um lobby em Macau, lobby esse que abre portas para um número quase infinito de possibilidades em todas as áreas de estudo e talvez até nas que não se estudam. Mas infelizmente, a moeda continua a ter dois lados: Se agradarmos ao lobby, então estamos safos, se X torcer o nariz à nossa presença, então somos capazes de não ser bem vindos por mais nenhuma letra do abecedário.
Letras à parte, é importante dizer que Macau é um sítio pequeno, onde todos nos conhecemos.. um pouco como numa pequena aldeia. Com uma pequena grande diferença: Se viermos de Vila-Nova-Atrás-do-Sol-Posto, é improvável que nos cruzemos com algum compatriota em Lisboa. Já de Macau, encontro-os por aí aos pontapés.. seja a tirar curso no técnico de lisboa, a jogar na equipa de rugby do CDUL ou a deambular pelo bairro alto. Eles andam aí e a verdade é que se nos der na gana encetar conversa com 'macaenses', a coisa vai sempre parar a "epá pois, realmente a amiga de um amigo meu que ainda lá vive disse-me que aquilo tá diferente e que o gajo que tocava na banda naquele bar ainda lá está, mas a tocar num sítio completamente diferente!" E sabem qual é a melhor parte disto tudo? É que as hipóteses de sabermos de quem se está a falar são algo remotas, mas a conversa pode perdurar pela noite dentro pelo simples tema que se aborda: Macau.
Há uma coisa a filtrar neste texto: O pessoal de Macau anda por todo o lado e conhece toda a gente. Mesmo que não saibamos de quem se está a falar. Bem, a verdade é que este texto também não fala de ninguém nem é suposto, porque o que aqui se escreve é Macau e não são pessoas.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Homem da Máquina

São oito horas da noite. O trânsito faz-se com dificuldade na estrada à minha frente, enquanto espero pela boleia para casa. As luzes que alumiam as lojas ainda abertas, encandeiam-me os olhos. Estou cansada e continuo à espera da minha boleia. Entre todas as coisas que me passam pela cabeça, a que mais se faz anunciar é a fome. Tenho fome e quero ir para casa. É ali, mesmo em frente ao banco BCM, que o mesmo senhor pequenino e de cabelo já branco, recolhe lixo, em forma de caixas e caixas de cartão. Todos os dias da semana, falhando a hora sempre só por uns minutos. Hoje vi o senhor. Como sempre. Em frente ao BCM. Mas hoje foi diferente. Lá ia ele a caminho da porta com uma imensa panóplia de caixas e é quando se detém em frente de uma loja de produtos de electrónica. Foi aí que reparei em algo pela primeira vez. O sonho e a vontade de ter uma coisa, a transparecer pelos olhos. E acreditem que não era um olhar ambicioso, mas sim um olhar tão puro e sonhador que me fez esboçar um sorriso. Aquele homem chinês com um ar tão humilde estava a olhar para uma máquina fotográfica digital. Ele deteve-se na montra por causa da máquina. Hoje em dia é raro e único vermos alguém fascinar-se tanto com uma coisa como aquele homem. Provavelmente mais único ainda, só mesmo o meu sorriso... Um sorriso dificil de atingir àquela hora do dia. Tinha fome. Queria chegar a casa. Mas vi um senhor a olhar para uma montra e fiquei feliz.

terça-feira, 5 de julho de 2011

agora sim!

Dia 27 de Abril eu queria tudo e muito mais. Hoje descobri que tenho muito mais, mas não tenho tudo. Pensando sinceramente... Tudo não é nada. Muito mais, sim. Isso sim, é ter tudo. Porquê? Porque o mundo real é feito de coisas reais e de pequenas coisas que vamos alcançando. Hoje sinto que alcancei. Alcancei uma dose recomendável de reconhecimento pelo meu (ainda pouco maduro) trabalho e pelo (enorme) esforço que tenho feito. Acho que as pessoas nunca sabem o que querem realmente e mesmo que saibam, as coisas nunca acabam por correr dentro dos conformes. Muitas das ideias acabam por não passar do papel e mesmo que as queiramos pôr em acção um dia mais tarde, o papel já está amarrotado a um canto, porque os planos agora são outros e aquelas ideias já não parecem merecer a nossa atenção. Sempre disse que somos nós que traçamos o nosso próprio destino e modo de vida, e lá está.. é com o passar do tempo que os planos vão mudando e com eles, os pensamentos e lemas. Hoje não acredito ter um lema específico de vida. Amanhã talvez tenha. E a ideia de "vive um dia de cada vez" começa agora a fazer o maior dos sentidos na minha cabeça. Um sentido que nunca tinha feito, algo em que nunca tinha pensado, porque eu não queria viver a vida "um dia de cada vez". Queria vivê-la já no dia de amanhã, fazer planos e planos, amar no futuro e não no presente, pensar no futuro e não no presente, querer o futuro, mas nunca o presente. Onde é que isso me levou? Levou-me ao arrasto, ao arrasto de decisões, vivências, pensamentos e sentimentos. Levou-me a desvalorizar aquilo que um dia valorizaria o meu futuro. Hoje penso no hoje, amanhã pensarei no amanhã. Hoje tudo parece bem, amanhã não sei. Só sei que hoje tudo corre bem, portanto para quê querer tudo, se já tenho muito mais do que dia 27?

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Tudo e muito mais

Tenho saudades de não me preocupar. Tenho saudades de chorar, de gritar e de rir até não poder mais. Tenho saudades daqueles que se riem comigo e dos que choram também. Tenho saudades de algumas pessoas. E de mais umas quantas também. É triste quando a inspiração não aparece, parece que nos falta um pedaço de alma, sentimo-nos vazios. Quero escrever, quero viajar, quero conhecer pessoas e sítios, quero sentir sabores, cheiros, guardar momentos e experiências. Quero apanhar sol até ser de noite e quero aproveitar a noite até ser dia. Quero sentar-me no aeroporto de mochila às costas, à espera do próximo voo com vaga. Quero provar comidas que nunca provaria.
Quero tudo isto e muito mais. Será que quero demais?

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

Choveu de novo

A chuva caía lá fora. Às tantas, todos nós nos habituámos, já sabemos que precisamos sempre de um chapéu, de nos preocuparmos em levar um casaco e sapatos impermeáveis. Mas houve um dia especial. O dia em que a chuva parou. Nesse dia continuamos a sair com o chapéu e com as roupas impermeáveis, mas apercebemo-nos entretanto que parou e o Sol brilha bem lá no alto.
Ficamos tão felizes, tão extasiados com este acontecimento, com esperança de que nunca mais chova, de que possamos assistir ao pôr do Sol todos os dias, sem parar.
Mas é assim que acontece... No dia seguinte acordamos com o barulho de gordas gotas de água a baterem nas paredes do quarto onde dormimos. Olhamos pela janela e o alcatrão está molhado; ao ligarmos a aparelhagem ouvimos 1 minuto de tráfego sobre o número de acidentes que se deram na última hora.

Choveu de novo. A esperança morreu.