quarta-feira, 27 de julho de 2011

"Ah também és de Macau?"

"Ahh também és de Macau? Então deves conhecer aquele gajo..."

Na teoria, sou de macau, mas vivo em Portugal faz anos. Em conversa com o meu primo e mais duas amigas aqui da terra, chegámos à conclusão que de que quem viveu - e mesmo aqueles que só por cá passaram - em Macau, mesmo que se conheçam à coisa de uma semana e picos, são todos muito amigos. Digo isto por experiência própria, porque já não consigo contar pelos dedos a quantidade de gente que digo "sim sim, é meu amigo, conheci-o em Macau!" quando no fundo, não vivo aqui desde os oito anos e contam-se pelos dedos os amigos de infância.
Mas há sempre dois lados numa mesma moeda: acontece dizermos que conhecemos toda a gente, mas se chegarmos a Macau e ninguém nos conhecer, somos logo estranhos... e não nos entranhamos. Existe um lobby em Macau, lobby esse que abre portas para um número quase infinito de possibilidades em todas as áreas de estudo e talvez até nas que não se estudam. Mas infelizmente, a moeda continua a ter dois lados: Se agradarmos ao lobby, então estamos safos, se X torcer o nariz à nossa presença, então somos capazes de não ser bem vindos por mais nenhuma letra do abecedário.
Letras à parte, é importante dizer que Macau é um sítio pequeno, onde todos nos conhecemos.. um pouco como numa pequena aldeia. Com uma pequena grande diferença: Se viermos de Vila-Nova-Atrás-do-Sol-Posto, é improvável que nos cruzemos com algum compatriota em Lisboa. Já de Macau, encontro-os por aí aos pontapés.. seja a tirar curso no técnico de lisboa, a jogar na equipa de rugby do CDUL ou a deambular pelo bairro alto. Eles andam aí e a verdade é que se nos der na gana encetar conversa com 'macaenses', a coisa vai sempre parar a "epá pois, realmente a amiga de um amigo meu que ainda lá vive disse-me que aquilo tá diferente e que o gajo que tocava na banda naquele bar ainda lá está, mas a tocar num sítio completamente diferente!" E sabem qual é a melhor parte disto tudo? É que as hipóteses de sabermos de quem se está a falar são algo remotas, mas a conversa pode perdurar pela noite dentro pelo simples tema que se aborda: Macau.
Há uma coisa a filtrar neste texto: O pessoal de Macau anda por todo o lado e conhece toda a gente. Mesmo que não saibamos de quem se está a falar. Bem, a verdade é que este texto também não fala de ninguém nem é suposto, porque o que aqui se escreve é Macau e não são pessoas.

quinta-feira, 7 de julho de 2011

O Homem da Máquina

São oito horas da noite. O trânsito faz-se com dificuldade na estrada à minha frente, enquanto espero pela boleia para casa. As luzes que alumiam as lojas ainda abertas, encandeiam-me os olhos. Estou cansada e continuo à espera da minha boleia. Entre todas as coisas que me passam pela cabeça, a que mais se faz anunciar é a fome. Tenho fome e quero ir para casa. É ali, mesmo em frente ao banco BCM, que o mesmo senhor pequenino e de cabelo já branco, recolhe lixo, em forma de caixas e caixas de cartão. Todos os dias da semana, falhando a hora sempre só por uns minutos. Hoje vi o senhor. Como sempre. Em frente ao BCM. Mas hoje foi diferente. Lá ia ele a caminho da porta com uma imensa panóplia de caixas e é quando se detém em frente de uma loja de produtos de electrónica. Foi aí que reparei em algo pela primeira vez. O sonho e a vontade de ter uma coisa, a transparecer pelos olhos. E acreditem que não era um olhar ambicioso, mas sim um olhar tão puro e sonhador que me fez esboçar um sorriso. Aquele homem chinês com um ar tão humilde estava a olhar para uma máquina fotográfica digital. Ele deteve-se na montra por causa da máquina. Hoje em dia é raro e único vermos alguém fascinar-se tanto com uma coisa como aquele homem. Provavelmente mais único ainda, só mesmo o meu sorriso... Um sorriso dificil de atingir àquela hora do dia. Tinha fome. Queria chegar a casa. Mas vi um senhor a olhar para uma montra e fiquei feliz.

terça-feira, 5 de julho de 2011

agora sim!

Dia 27 de Abril eu queria tudo e muito mais. Hoje descobri que tenho muito mais, mas não tenho tudo. Pensando sinceramente... Tudo não é nada. Muito mais, sim. Isso sim, é ter tudo. Porquê? Porque o mundo real é feito de coisas reais e de pequenas coisas que vamos alcançando. Hoje sinto que alcancei. Alcancei uma dose recomendável de reconhecimento pelo meu (ainda pouco maduro) trabalho e pelo (enorme) esforço que tenho feito. Acho que as pessoas nunca sabem o que querem realmente e mesmo que saibam, as coisas nunca acabam por correr dentro dos conformes. Muitas das ideias acabam por não passar do papel e mesmo que as queiramos pôr em acção um dia mais tarde, o papel já está amarrotado a um canto, porque os planos agora são outros e aquelas ideias já não parecem merecer a nossa atenção. Sempre disse que somos nós que traçamos o nosso próprio destino e modo de vida, e lá está.. é com o passar do tempo que os planos vão mudando e com eles, os pensamentos e lemas. Hoje não acredito ter um lema específico de vida. Amanhã talvez tenha. E a ideia de "vive um dia de cada vez" começa agora a fazer o maior dos sentidos na minha cabeça. Um sentido que nunca tinha feito, algo em que nunca tinha pensado, porque eu não queria viver a vida "um dia de cada vez". Queria vivê-la já no dia de amanhã, fazer planos e planos, amar no futuro e não no presente, pensar no futuro e não no presente, querer o futuro, mas nunca o presente. Onde é que isso me levou? Levou-me ao arrasto, ao arrasto de decisões, vivências, pensamentos e sentimentos. Levou-me a desvalorizar aquilo que um dia valorizaria o meu futuro. Hoje penso no hoje, amanhã pensarei no amanhã. Hoje tudo parece bem, amanhã não sei. Só sei que hoje tudo corre bem, portanto para quê querer tudo, se já tenho muito mais do que dia 27?