terça-feira, 3 de setembro de 2013

Crime: piropagem.


Acreditar no Bloco em Portugal é como acreditar que os contos de fadas se podem tornar realidade. Mas quando for grande, quero ser bloquista! Quero ter a certeza que todas as prostitutas têm um sindicato, bem como os respectivos proxenetas, para que não haja a vontade de criar monopólios empresariais e depois é uma chatice porque os preços não são competitivos e vão todos ali à Maria Joaquina da Pensão do Intendente, que só cobra 10€ por hora.
Mas não há motivo para preocupação, porque ela é seguida pelo médico de família semanalmente e tem as análises emolduradas para o caso da clientela querer ter a certeza.
Ora pois se o piropo de um construtor civil é, aos olhos de alguns, mais punível do que a prostituição, este seria um cenário possível.
Então mas qual a coima a aplicar a um delito de "piropício"? Ora, uma palmadinha de mão aberta na nuca do criminoso! Se este ficar triste com o sucedido, pode sempre recorrer à Joaquina do Intendente... Pode mandar os piropos que quiser. Ou será que não pode? Bem, crê-se que tal irá depender da variedade de serviços e se existirá, eventualmente, uma panóplia imensa de pequenas taxas extra por cada "o teu pai é arquitecto? É que és cá uma obra!".
Então mas se, à là BE, o piropo for aceitável em contexto de relacionamento íntima entre duas pessoas?
É, realmente, um assunto sobre o qual vale a pena reflectir... Mais que não seja para contar o volume de horas que se perdeu em volta de.

domingo, 1 de setembro de 2013

"Ó estrela, queres cometa?!"


Piropos são uma das formas de satisfação e entretenimento (normalmente masculino) mais rudimentar, básica e fácil que existe. Isso não quer dizer que tenha um efeito positivo junto da população feminina... Ou de qualquer uma. Sim, já todas as raparigas se sentiram insultadas e ofendidas quando saíram de casa com uma saia mais curta ou uma maquilhagem mais trabalhada, mas é ultrajante pensar-se que isso é tema de interesse público.
Uma coisa é mandar um ou outro bitaite sobre este tema numa conversa de café... Outra coisa é ser bloquista e criar um fórum de debate sobre a mesma questão. Que teimam em perspectivar como um 'problema'. A imprensa já veio esclarecer que não se tratou de querer proibir o belo do piropo, mas sim de discutir a sua filosofia.
Questiono-me então: quem, no seu perfeito juízo, gasta horas de vida debatendo um assunto que não tem debate possível? A resposta existe e é simples... Tão simples que a deixo para vocês. 
Considero que a verdadeira interrogação está enterrada mais fundo do que se pensa. Que viabilidade, em sentido político nacional, pode ter um partido que gasta alguns milhares de euros em fóruns de debate deste género? Fala-se da Judite e do Lorenzo, dos empresários muito, muito "ladrões", e esquecem-se de sublinhar a (real) lógica estapafúrdia que faz parte do oxigénio dos bloquistas de hoje em dia. Tirando um ou outro macaquito menos hipster e mais prático do que teórico, tudo aquilo se resume a uma anedota, porque a reacção social imediata é o riso.
Bem sei que os pequenos partidos devem existir, em prol da variedade política e de ideias, mas o non sense não pode entrar nesta equação. 
Isto de se achar que todos os disparates podem fazer sentido ditos de forma séria é, passando a redundância, seriamente disparatado. 

Quer-me parecer que existe uma relação constante entre o desespero individual e a adesão a lógicas extremistas deste género. Querem mesmo um país governado por pessoas que consideram que o piropo é uma forma de assédio sexual tão 'punível' como comentários racistas ou homofóbicos? Mas porque é que se há-de achar que as mulheres ainda são uma fatia incompreendida e injustiçada na sociedade? Se calhar é precisamente por existirem pessoas com esse pensamento - em pleno século XXI - que acham que a queima do soutien devia ser theme party no Lux.

Leram e pensaram que a autora deve estar ali a roçar o fascismo político. Enganam-se. Apoia muita coisa, principalmente o fomento e interesse cultural e intelectual... Que não visa, nunca, o debate sobre a cor do rabo do porquinho do Sr. António que vive no Monte dos Olivais - à semelhança do que aconteceu com as filosofias bloquistas. 
Uma coisa é ser-se jovem e querer mudar o Mundo. Outra coisa é ser-se jovem e achar que se pode mudar o Mundo, eliminando o piropo

(Brevemente desconstruirei a anedótica discussão que surgiu da comparação entre a gravidade do piropo e da prostituição. Sim, leram bem.)

sábado, 17 de agosto de 2013

Cocó, ranheta e uma facada

Gosto de criticar. Gosto ainda mais de o fazer sobre assuntos que fazem sentido. E gosto muito, mas mesmo muito de pessoas que fazem o mesmo. Não gosto é muito de quem o faz pelos motivos errados, de quem o faz sem fundamento de qualquer espécie mas, principalmente, de quem o faz através dos argumentos mais ridículos de que há história.

Ora e por falar em histórias, aqui vai uma.

ATENÇÃO: A primeira coisa a saber é que considero que a razão e bom senso foram elementos que não existiram no seio da hipotética entrevista do meu conto. A escolha do entrevistado foi péssima e as perguntas também. Mas dessa escolha adveio exactamente uma clara falta de noção... de Língua Portuguesa, de realidade, entre muitas outras coisas (Acham que também falo mal se isto não estiver com acordo?).

Era uma vez uma jornalista (aparentemente) conceituada por muitos no mundo do jornalismo nacional português. Essa mesma personagem trabalha, de momento, num dos canais de uma televisão nacional privada. Os ordenados dos seus trabalhadores provêm dos lucros das suas audiências, dos patrocinadores, and so on. 
Ora pois que chegou o dia em que esta senhora (uma personagem totalmente fictícia) entrevistou um .... rapazinho bem parecido e com algum poder financeiro. Problema? Nenhum. A entrevista começou por mostrar uma curta reportagem sobre o dia a dia do entrevistado. Parcial ou imparcialmente, retratava uma vida boémia e despreocupada, cheia de dinheiro, carros, mulheres, jóias e coisas que tal. 
Primeiro ponto desta história: ao voltar ao estúdio, o entrevistado munia-se de um fio de prata e diamantes e um relógio que deve ter custado mais do que muitas casas juntas - facto que não importa para a moral desta história. 
No decorrer da entrevista, a jornalista não se escusa em fazer comentários e perguntas, dando a ideia de que "este rapaz é uma pessoa fútil e cheio de massa, que não quer saber da crise e dos portugueses para nada".
Minutos a seguir, surgem vários comentários nas redes sociais: "X devia ter vergonha de ter insultado Y daquela maneira", "Y não esteve bem, mas não tinha o direito de ser humilhado em público"; "X não tem nada que falar porque ganha mais imenso dinheiro e também o deve esbanjar como Y".

Vamos lá ver se percebemos a história toda. Agora com calma.

O entrevistado foi, segundo perspectiva de muitos, um mártir da televisão nacional, porque foi humilhado simplesmente por fazer desaparecer o dinheiro como muitos fazem desaparecer amendoins. 
A entrevistada foi criticada até ao tutano por ter feito esta e aquela pergunta e "ai que inconveniente que ela foi, a expor o piqueno daquela maneira".

Moral desta história? Está tudo errado e as lógicas sociais sofreram uma inversão tão brusca que já ninguém sabe o que é o quê. 

O entrevistado é só mais uma daquelas pessoas que das duas, uma: Nunca lhe ensinaram o valor do dinheiro, ou então está certo que de de onde vem aquele, vem mais e o pode gastar com um sorriso nos lábios enquanto paga um copo aos amigos num qualquer espaço de diversão nocturna. 
A entrevistada não esteve, definitivamente, nos seus melhores dias. Todos temos dias maus, não? Mas será que os portugueses ouvem falar de palacetes e de grandes carros comprados por ela? "Ah e tal ela ganha milhares de euros e não os dá a ninguém". Isto são cá as minhas coisas, mas isso não será facilmente justificado pelo facto do dinheiro ser dela e ganho através do seu próprio esforço e dedicação profissionais?

Pois, bem me parecia.

Trata-se, pura e simplesmente, de uma exposição exagerada e desmesurada, de não saber estar e de não saber o que é um comportamento digno de quem tem dinheiro. Se ajuda ou não, não interessa - Até porque uma empresa com nome de posição sexual torna-se incongruente com solidariedade e compaixão, noções amplamente publicitadas pela mesma. 
O que também é interessante realçar nesta história (é de sublinhar, novamente, que o seu carácter é total e puramente ficcional) é o facto de ninguém ter absolutamente nada a ver com o que a entrevistada gasta ou deixa de gastar com o seu dinheiro, uma vez que (ora esta é complicada)..... É dela. 
Sim, o dinheiro do entrevistado também lhe pertence. A divergência surge na forma de apresentação, na forma de ver o Mundo e no background de cada um de nós e, em última instância, da sociedade em que estamos inseridos. 
No fundo, a moral desta short story tem que ver com o legado que se vai deixar. Será de dinheiro e de carros que precisamos? Ou será de pessoas cultas e cujo contributo intelectual é imenso? Mais uma vez digo (e é isso que me aflige) que julgo que as noções de país, de legado e de continuidade estão a ser completamente corrompidas e distorcidas em favor do "deixa andar, deixa-o viver como quer, somos todos livres, não somos?"

Note to self and all readers: Ver filme "Idiocracy". Se todos tivessem visto este filme, não teriam lido esta pequena história de embalar. 

quarta-feira, 3 de julho de 2013

A crítica é cega, surda e muda. E não muda.

Se calhar não me expliquei bem.
Antes de mais, há dois ou três pontos acerca dos meus comentários que quero que fiquem muitíssimo bem esclarecidos. 

Primeiro: Nunca, em tempo ou momento algum, fiz sequer questão de mencionar toda a população de Portugal Continental. Surge então um problema: se a carapuça serve, deixa de ter que ver com aquilo que eu escrevo, para passar a ter pura e simplesmente que ver com o que passa pela cabeça das pessoas.

Segundo: Não fui, de longe, a única pessoa a comentar negativamente este "acto", sendo-me possível, se por teimosia ou estupidez alheia, mostrar comentários e textos de terceiras pessoas a dizer isso mesmo. 

Terceiro: Portugal e a China têm políticas, sociedades e culturas abismalmente diferentes, pelo que não se pode considerar aceitável que, em Portugal, se cuspa para cima de um (ainda) membro do Estado. Sim, na China cospe-se para cima dos pés das pessoas (sim, não fiquem assim tão surpreendidos), mas também se come no chão em cima de uma folha de jornal e também se arrota em pleno restaurante quando se acaba de almoçar. As regras de etiqueta não foram feitas numa mesma língua e, por isso mesmo, não são universais. Posto isto, pergunto-me então se seria normal ver várias pessoas a almoçarem no passeio da Avenida de Berna, de pauzinhos e tigela de sopa em riste? A resposta é, obviamente, não. 

Tal como o choque surge na cara das pessoas que viajam até países francamente diferentes de Portugal, também o choque e a surpresa assolou o meu rosto.
Fiquei completamente chocada com a atitude e com o comportamento do grupo de pessoas que fizeram aquilo. Alguns dizem que é normal. Por favor, não, isso é que não. Se normalizarmos situações como esta, onde é que isto vai parar? 

Neste momento - e acho que se fugiu claramente do cerne da questão na minha  publicação da tarde - Nenhuma acção, seja ela de que natureza for, é passível de ser censurada, condenada ou julgada, só porque é contra o Governo. 

Somando tudo isto, a questão central é que não quis, efectivamente, afectar ninguém, nem tão pouco troçar da desgraça alheia, que bem sei que não é escassa nos dias de hoje. As pessoas estão mal e o país está a afundar-se cada vez mais em dívidas e outros problemas, que, consequentemente, têm danos irreversíveis na vida de muitos. Compreendo, aceito e apoio as teses que contrariam as políticas desmesuradas e descabidas deste actual governo, mas não posso deixar de condenar a tal chamada "forma de desespero", que não passa - e repito - de um acto primitivo e animal. 

Perdoem-me todos os que acham que é cuspindo em cima das pessoas que se resolvem os problemas, mas discordo totalmente disso. Como li hoje alguém: "É muito triste. Mesmo".


quinta-feira, 28 de março de 2013

Isto é que não

Ligo a televisão, mas mais valia não o fazer. Abro o Facebook, mas mais valia não o fazer. Deprime-me. Deprime-me todos os dias. Faz pouco mais de uma semana que voltei de um sítio onde, como se costuma dizer por lá, "a crise não existe", "é uma lufada de ar fresco" sair daqui e ir para ali. Para alguns, o paraíso das oportunidades está a escassas horas de viagem, mas poucos parecem querer perceber isso. Lá vão aviando as contas de supermercado, lá vão contando os trocos para a gasolina, lá vão mais qualquer coisa pequenina, nunca óptima, nunca surpreendente. Estou triste e deprimida com este país. Deveria ser o meu, mas não consigo vê-lo como tal. Dou por mim a pensar como uma outsider: "Portugal? Bem, gosto das paisagens, das praias fantásticas, da gastronomia..." E mais? E mais nada, pelo menos não muito mais. 
Tudo isto está podre por dentro, que nem maçã com bicho. O(s) sistema(s) político(s), o sistema social que há muitos anos se tem vindo a implementar e a (tentar) aprimorar... Tudo. Mas aquilo que na verdade custa mais, é ver como é que a mentalidade se desenvolve mas no fundo, continua a mesma. "É tudo o que eu conseguir meter prá blusa". Desenganem-se. 
Os jovens recém-licenciados e mestres querem empregos de sonho num país que mergulha a 1000 metros numa crise económica profunda. Os mais velhos querem continuar com os seus empregos de sempre, mas aquilo que eles queriam mesmo era saírem safos com uma daquelas reformas chorudas de fazer inveja ao vizinho do lado. 
Sim, talvez esteja a ser demasiado dura com este país, mas ele é duro para mim também e eu quero mais. Considero-me sortuda por ver mais à frente, por saber que há um Mundo lá fora pronto para me acolher. No fundo, acho que sou mais feliz do que muita gente, por ter a percepção que nada acaba aqui, atrevendo-me mesmo a dizer que acho que nada começa aqui. Pelo menos, não neste momento.
Muitas vezes, lá fora, a crise é só mais uma palavra escondida entre as incontáveis páginas de um Porto Editora; é apenas corrente dentro de um gabinete de doutores da psique; é só mais uma. Aqui, é tudo. Tudo gira em volta da crise, e se o Governo tem muita culpa nisso, então os media têm a outra metade. 
Lá fora não preciso de contar os trocos para pôr o meu carro a andar. 
Há quem chame "desertores" a quem emigra. Então mas o que chamar a quem fica? "Lutadores"? "Corajosos"? Depende da perspectiva de cada um, dos desejos e ambições de cada um. Principalmente, das prioridades de cada um. Esta é a verdadeira pátria de muitos, o berço de toda a sua infância e crescimento, o centro das suas origens, raízes, tradições e cultura. Mas punhamos a questão da seguinte forma: Como é que um país pode ser o berço do nosso ser, se de repente nos abandona e nos deixa à mercê de um destino muito pouco risonho? O que é, afinal, o nosso berço, o "nosso país"? No meu entender, isso não existe de uma forma tão rigorosa como as pessoas pintam. Existe, sim, um sítio que idealizamos ser o nosso, ser aquele em que construímos a nossa carreira, a nossa família. Idealmente, que país seria esse? Aquele ao qual nos agarramos por pensarmos que não existe mais nada que não isso? Ou aquele onde sabemos existirem oportunidades e um Mundo novo a explorar? 
Aqui, os ideais estão corrompidos, bem como a mentalidade. 
Eu quero poder ser, quero poder subir na escada profissional pelas minhas competências, e não porque deixei um maço de notas na mesa do chefe ao final do dia. Eu quero poder ir ao supermercado sem olhar primeiro para os trocos que tenho na carteira. Quero poder eliminar a expressão "é isto que me resta" do meu vocabulário corrente. Quero poder rir quando olho para a televisão, ao invés de chorar. Quero poder ser individualista e isso não ser encarado como um defeito. Mas acima de tudo, quero poder ser eu sem que me amarrem as ideias, que me fechem numa redoma de azares e dissabores. Quero tudo. Tudo menos isto.

quinta-feira, 14 de março de 2013

..

People try so hard that sometimes they dont even realize nobody's watching. And that's no worth it. None of it.

Red Flag

There's something called a Red Flag. And you should recognize it from a really far distance. If you don't, you're either just kidding yourself, or being incredibly naive. Or stupid. 

Guess the third's always the right answer.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Pretty Woman das Tailândias

Por aqui há muitas. Umas mais pretty que outras, mas há muitas. A prostituição na Tailândia é de uma elegância e de um charme meio kirsch, meio mau gosto. Mas de alguma forma, é manifestamente melhor daquela praticada numa qualquer ruela do Terreiro do Paço, daquelas que vão direitinhas até ao Restauradores, bem à baixa de Lisboa. Por aqui, os russos anafados e de educação rústica exibem-nas para a frente e para trás, umas baixinhas, de cabelo apanhado e roupas daquelas compradas em terceira, quarta ou muitas outras mãos. Outras têm mais requinte. Surgem ao lado de fortes italianos ou suecos e de pernas à mostra. A mini saia de cor berrante vai bem com o top azul petróleo, finalizando com aqueles saltos altos dignos de filmes de erotismo barato. Elas aqui são todas pretty para eles, e mais importante, são todas pagas à semana. As pretty woman vão à praia com eles, jogando volley e bebendo cerveja fresca alegremente. As pretty woman vão jantar com eles aos restaurantes mais caros de Karon Beach, e ficam alojadas nos seus Resorts, nos seus quartos, nas suas camas. Partilham uma longa noite de loucura que se faz entre quatro braços, quatro pernas, duas pessoas. Ou mais, quem sabe. Os seus nomes não se pronunciam Julia Roberts, mas mais valia, depois de tudo aquilo que passam, depois de tudo aquilo que vivem. Estas são pretty por causa do estatuto semanal que, com sorte - ou não -, adquirem junto daqueles que só por cá passam. Eles procuram companhia e elas, dinheiro. Eles dão-lhes dinheiro... Em troca de companhia. Uma semana e tanto, para estes tipos rústicos e extremamente bem apessoados. Eles querem pretty women, eles não querem decadências do Terreiro, nem baixa lisboeta com bónus de HIV. Eles querem companhia e nada mais. Bom, talvez mais um pouco. Por semana. Pago à semana. E elas acedem. 

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Gerações

Diferentes gerações, diferentes percepções. As noções alteram-se em consonância com o território. Parece que tudo sai do sítio para aterrar noutro mesmo sítio. Noções são noções e apenas isso mesmo. Todos vemos aquilo que queremos ver, e acima de tudo, aquilo que conseguimos ver. Ao sair do terminal de barcos de Macau, deparamo-nos com uma cidade que já foi a nossa, mas já não é. Os resquícios de um Portugal já vão lá longe no horizonte, mas ainda pairam; não chegam é para matar as saudades. Elas são muitas e não é para admirar, uma vez que todas as caras circundantes se apresentam em bico, não são olhos de gente portuguesa, nem sequer ocidental. É um outro Mundo, um outro Universo. Prefiro pensar nele como um qualquer paraíso paralelo, que tem em si o que de mais belo se fez: as paisagens, a multidão ordeiramente caótica, o rio incrivelmente calmo e extenso, as pontes iluminadas.

O horizonte feito de pequenas casinhas e luzes imensas faz com que as saudades sejam mais pequeninas, menos feitas de si próprias, menos intensas. Agarrar tudo o que de melhor temos é aquilo que vale nesta vida. Livrarmo-nos do que nos faz mal - e até do que nos faz menos bem - e apreciar o que podemos, enquanto podemos. Um dia voltamos e quem sabe se voltamos a poder sentir esta realidade? Tudo aquilo que importa é aquilo que se passa aqui e agora, não o que se vai passar amanhã ou depois. Diferentes gerações, diferentes percepções. Se ao menos pudesse passar-lhes aquilo que sinto, aquilo que vejo, aquilo que quero... 

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

reticências (...)

Eles fazem parte de um livro invisível. Páginas de sangue, suor e lágrimas. Não, só de muito amor... e talvez um pouco de suor.

Eles fazem parte de um livro invisível. Nele escreveram-se palavras soltas e desreguladas, letras sem nexo, mas sentimentos com sentido. Podem evaporar-se daqui a nada, talvez hoje, amanhã, depois ou nunca. A única coisa que importa é terem sido escritas. Podem querer apagá-las, mas sem efeito. A borracha não chega; nem o corrector tem essa capacidade. A lápis ou a tinta, as palavras estão escritas de qualquer forma. Parecem escritas numa língua quase universal, perceptíveis de forma intangível e por eles apenas. 

Eles fazem parte de um livro invisível. Nunca rasgues as páginas de uma obra que não vais querer esquecer.