sábado, 17 de agosto de 2013

Cocó, ranheta e uma facada

Gosto de criticar. Gosto ainda mais de o fazer sobre assuntos que fazem sentido. E gosto muito, mas mesmo muito de pessoas que fazem o mesmo. Não gosto é muito de quem o faz pelos motivos errados, de quem o faz sem fundamento de qualquer espécie mas, principalmente, de quem o faz através dos argumentos mais ridículos de que há história.

Ora e por falar em histórias, aqui vai uma.

ATENÇÃO: A primeira coisa a saber é que considero que a razão e bom senso foram elementos que não existiram no seio da hipotética entrevista do meu conto. A escolha do entrevistado foi péssima e as perguntas também. Mas dessa escolha adveio exactamente uma clara falta de noção... de Língua Portuguesa, de realidade, entre muitas outras coisas (Acham que também falo mal se isto não estiver com acordo?).

Era uma vez uma jornalista (aparentemente) conceituada por muitos no mundo do jornalismo nacional português. Essa mesma personagem trabalha, de momento, num dos canais de uma televisão nacional privada. Os ordenados dos seus trabalhadores provêm dos lucros das suas audiências, dos patrocinadores, and so on. 
Ora pois que chegou o dia em que esta senhora (uma personagem totalmente fictícia) entrevistou um .... rapazinho bem parecido e com algum poder financeiro. Problema? Nenhum. A entrevista começou por mostrar uma curta reportagem sobre o dia a dia do entrevistado. Parcial ou imparcialmente, retratava uma vida boémia e despreocupada, cheia de dinheiro, carros, mulheres, jóias e coisas que tal. 
Primeiro ponto desta história: ao voltar ao estúdio, o entrevistado munia-se de um fio de prata e diamantes e um relógio que deve ter custado mais do que muitas casas juntas - facto que não importa para a moral desta história. 
No decorrer da entrevista, a jornalista não se escusa em fazer comentários e perguntas, dando a ideia de que "este rapaz é uma pessoa fútil e cheio de massa, que não quer saber da crise e dos portugueses para nada".
Minutos a seguir, surgem vários comentários nas redes sociais: "X devia ter vergonha de ter insultado Y daquela maneira", "Y não esteve bem, mas não tinha o direito de ser humilhado em público"; "X não tem nada que falar porque ganha mais imenso dinheiro e também o deve esbanjar como Y".

Vamos lá ver se percebemos a história toda. Agora com calma.

O entrevistado foi, segundo perspectiva de muitos, um mártir da televisão nacional, porque foi humilhado simplesmente por fazer desaparecer o dinheiro como muitos fazem desaparecer amendoins. 
A entrevistada foi criticada até ao tutano por ter feito esta e aquela pergunta e "ai que inconveniente que ela foi, a expor o piqueno daquela maneira".

Moral desta história? Está tudo errado e as lógicas sociais sofreram uma inversão tão brusca que já ninguém sabe o que é o quê. 

O entrevistado é só mais uma daquelas pessoas que das duas, uma: Nunca lhe ensinaram o valor do dinheiro, ou então está certo que de de onde vem aquele, vem mais e o pode gastar com um sorriso nos lábios enquanto paga um copo aos amigos num qualquer espaço de diversão nocturna. 
A entrevistada não esteve, definitivamente, nos seus melhores dias. Todos temos dias maus, não? Mas será que os portugueses ouvem falar de palacetes e de grandes carros comprados por ela? "Ah e tal ela ganha milhares de euros e não os dá a ninguém". Isto são cá as minhas coisas, mas isso não será facilmente justificado pelo facto do dinheiro ser dela e ganho através do seu próprio esforço e dedicação profissionais?

Pois, bem me parecia.

Trata-se, pura e simplesmente, de uma exposição exagerada e desmesurada, de não saber estar e de não saber o que é um comportamento digno de quem tem dinheiro. Se ajuda ou não, não interessa - Até porque uma empresa com nome de posição sexual torna-se incongruente com solidariedade e compaixão, noções amplamente publicitadas pela mesma. 
O que também é interessante realçar nesta história (é de sublinhar, novamente, que o seu carácter é total e puramente ficcional) é o facto de ninguém ter absolutamente nada a ver com o que a entrevistada gasta ou deixa de gastar com o seu dinheiro, uma vez que (ora esta é complicada)..... É dela. 
Sim, o dinheiro do entrevistado também lhe pertence. A divergência surge na forma de apresentação, na forma de ver o Mundo e no background de cada um de nós e, em última instância, da sociedade em que estamos inseridos. 
No fundo, a moral desta short story tem que ver com o legado que se vai deixar. Será de dinheiro e de carros que precisamos? Ou será de pessoas cultas e cujo contributo intelectual é imenso? Mais uma vez digo (e é isso que me aflige) que julgo que as noções de país, de legado e de continuidade estão a ser completamente corrompidas e distorcidas em favor do "deixa andar, deixa-o viver como quer, somos todos livres, não somos?"

Note to self and all readers: Ver filme "Idiocracy". Se todos tivessem visto este filme, não teriam lido esta pequena história de embalar. 

1 comentário:

  1. Bem resumido...
    Conclusão um bocadinho descabida, mas o resumo é esse...

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