quarta-feira, 25 de julho de 2012

Ali mesmo. Assim. Ali.

Olhar vítreo, ombros e braços pesados e brancas a voar ao sabor do vento. Viu-se diante da cidade que já foi sua, um espaço por si eleito. Desterrado de si mesmo, encerrou ali o seu capítulo. A série chegou ao fim e ali estava ele, preso num estúdio que não queria largar, que não sabia largar. Temia aquele lugar, mas preferia-o, à dor de sequer pensar como seria a saudade.

sábado, 21 de julho de 2012

Existência

Mata-nos a todas, essa inércia que é viver. Ora somos as pessoas mais ocupadas do Mundo, ora desejamos desaparecer para bem fundo de um poço. Não morrer, apenas deixar de existir, deixar de ser. Deixar de ser assim como somos, como sempre fomos. Será que isso quer então dizer que não nos sentimos bem sendo quem somos? Bem, talvez seja isso, sim. Mas será que isso é mau? Talvez não. Há quem ame uma pessoa que nunca existiu, que crie uma personagem dentro de alguém real. "Tu gostas da imagem que fizeste de mim", costuma frequentemente ouvir-se dizer. Se assim é, então porque não podemos nós "Gostar da imagem que fazemos de nós"? Às vezes parece ser possível querer ser assim, normal. E depois de repente desatamos aos pensamentos e aos pontapés à rotina e essa lógica desconstrói-se para dar lugar a uma coisa maldita, a uma imagem desfocada que agora ansiamos mais do que qualquer outra coisa no Universo. O céu corrói-nos e parece gozar connosco. Está ali tão quieto, mas ao mesmo tempo tão omnipresente e tão cheio de si. Acha-se o maior. Todos nos queremos achar os maiores. E porque é que não? Esta inércia de vida é que não.

Escolhe

Então, perdeste-te entre as memórias? Sei que são grandes demais, mas não chegam para tanto. Sabes qual é o problema? A fragmentação das coisas. Quando algo se parte em infinitos milhões de bocadinhos, é um bocado impossível que tudo voltar a ser como um dia foi.
Esta é a história da tua vida. Da minha. De vossa e da deles. É a história de todos nós que se fragmenta aos poucos sem dar sinais.

Tudo acontece e ninguém se apercebe.

Um dia olhas para trás e estás metido num buraco escuro e vazio, quando tentas chamar alguém, a tua voz ecoa e dissipa-se no ar frio da noite.

Um dia olhas para trás e tens três crianças pequenas correndo para ti a chamarem-te "papá". Não sabes o que fazer, já não aguentas o peso e só pensas: "Tenho saudades da solidão".

Um dia olhas para trás e vês a porta do tribunal. Tentaram durante tantos anos para depois acabar assim? Não queres viver, não queres mais nada.

A vista daqui é perfeita. Sem derivações adjectivais. A vista daqui é perfeita. Mergulhas no fundo do ser.. ou do Mundo, como preferires chamar-lhe. Ouves gritos desesperados bem ao longe e pensas em como tudo é tão melhor ali, tão mais apaziguador. Até a dor do sufoco e a falta de ar nos pulmões é apaziguadora. Tudo deixa de mexer. Tudo pára.

Tu páras. A dor pára. A morte dá sinais de vida e tu pareces sentir-te feliz pela primeira vez na vida. Ou na morte, como preferires chamar-lhe.

terça-feira, 17 de julho de 2012

circundante

Cada vez mais te afundas no barulho envolvente. Conquistas o que não queres, deixas partir quem sempre desejaste. Dentro de ti há um fogo que não queima, mas deixa marca. Nunca se apaga e não se deixa apanhar. Tu és fogo e queimas tudo à tua volta. Queimas as pessoas e as coisas. Tudo é agora cinzas. Do que sempre foi, só agora restas tu e nada mais. São quilómetros de distância que deixaste de todas as pessoas e não queres nem mais um centímetro. Mas também não queres aproximação. Queres que fiquem, apenas que fiquem onde estão. Não se mexes, não se movam, não se movimentem. Quero que tudo permaneça estático até que eu queira voltar a mexer-me de novo também.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Assinado

Estás guardado num espaço onde só cabes tu. Não me perguntes onde é, porque nunca soube que existia tal coisa dentro de mim. Quero que saias e que me abandones já. Ouviste, não ouviste? Já. Não é daqui a bocado. Quero já. Esquece. Afinal descobri que é impossível abandonarmos uma coisa que nunca tivemos. E ainda mais impossível que isso é descobrirmos tal coisa sozinhos, sem termos alguém que nos diga isso. Sabes... é que termos alguém que nos diga as coisas, é porque não estamos sozinhos. Tu silencias-me, é isso! Mentira, não silencias nada. Quer dizer, não me deixas falar, mas não é porque me calas os lábios. Tu impedes o meu pensamento de fluir, a lógica de se processar. Tu quebras-me. Vês o que fizeste? Quebraste-me. Não tenho cola e tu não serves. Lamento. Lamento imenso mesmo. 

Os melhores cumprimentos, 

Ass. ___________