quinta-feira, 28 de março de 2013

Isto é que não

Ligo a televisão, mas mais valia não o fazer. Abro o Facebook, mas mais valia não o fazer. Deprime-me. Deprime-me todos os dias. Faz pouco mais de uma semana que voltei de um sítio onde, como se costuma dizer por lá, "a crise não existe", "é uma lufada de ar fresco" sair daqui e ir para ali. Para alguns, o paraíso das oportunidades está a escassas horas de viagem, mas poucos parecem querer perceber isso. Lá vão aviando as contas de supermercado, lá vão contando os trocos para a gasolina, lá vão mais qualquer coisa pequenina, nunca óptima, nunca surpreendente. Estou triste e deprimida com este país. Deveria ser o meu, mas não consigo vê-lo como tal. Dou por mim a pensar como uma outsider: "Portugal? Bem, gosto das paisagens, das praias fantásticas, da gastronomia..." E mais? E mais nada, pelo menos não muito mais. 
Tudo isto está podre por dentro, que nem maçã com bicho. O(s) sistema(s) político(s), o sistema social que há muitos anos se tem vindo a implementar e a (tentar) aprimorar... Tudo. Mas aquilo que na verdade custa mais, é ver como é que a mentalidade se desenvolve mas no fundo, continua a mesma. "É tudo o que eu conseguir meter prá blusa". Desenganem-se. 
Os jovens recém-licenciados e mestres querem empregos de sonho num país que mergulha a 1000 metros numa crise económica profunda. Os mais velhos querem continuar com os seus empregos de sempre, mas aquilo que eles queriam mesmo era saírem safos com uma daquelas reformas chorudas de fazer inveja ao vizinho do lado. 
Sim, talvez esteja a ser demasiado dura com este país, mas ele é duro para mim também e eu quero mais. Considero-me sortuda por ver mais à frente, por saber que há um Mundo lá fora pronto para me acolher. No fundo, acho que sou mais feliz do que muita gente, por ter a percepção que nada acaba aqui, atrevendo-me mesmo a dizer que acho que nada começa aqui. Pelo menos, não neste momento.
Muitas vezes, lá fora, a crise é só mais uma palavra escondida entre as incontáveis páginas de um Porto Editora; é apenas corrente dentro de um gabinete de doutores da psique; é só mais uma. Aqui, é tudo. Tudo gira em volta da crise, e se o Governo tem muita culpa nisso, então os media têm a outra metade. 
Lá fora não preciso de contar os trocos para pôr o meu carro a andar. 
Há quem chame "desertores" a quem emigra. Então mas o que chamar a quem fica? "Lutadores"? "Corajosos"? Depende da perspectiva de cada um, dos desejos e ambições de cada um. Principalmente, das prioridades de cada um. Esta é a verdadeira pátria de muitos, o berço de toda a sua infância e crescimento, o centro das suas origens, raízes, tradições e cultura. Mas punhamos a questão da seguinte forma: Como é que um país pode ser o berço do nosso ser, se de repente nos abandona e nos deixa à mercê de um destino muito pouco risonho? O que é, afinal, o nosso berço, o "nosso país"? No meu entender, isso não existe de uma forma tão rigorosa como as pessoas pintam. Existe, sim, um sítio que idealizamos ser o nosso, ser aquele em que construímos a nossa carreira, a nossa família. Idealmente, que país seria esse? Aquele ao qual nos agarramos por pensarmos que não existe mais nada que não isso? Ou aquele onde sabemos existirem oportunidades e um Mundo novo a explorar? 
Aqui, os ideais estão corrompidos, bem como a mentalidade. 
Eu quero poder ser, quero poder subir na escada profissional pelas minhas competências, e não porque deixei um maço de notas na mesa do chefe ao final do dia. Eu quero poder ir ao supermercado sem olhar primeiro para os trocos que tenho na carteira. Quero poder eliminar a expressão "é isto que me resta" do meu vocabulário corrente. Quero poder rir quando olho para a televisão, ao invés de chorar. Quero poder ser individualista e isso não ser encarado como um defeito. Mas acima de tudo, quero poder ser eu sem que me amarrem as ideias, que me fechem numa redoma de azares e dissabores. Quero tudo. Tudo menos isto.

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