sábado, 3 de dezembro de 2011

Melhor na tela que no papel

Está bem que a obra conjunta de Charles Dickens lhe valeu um lugar no mundo académico das línguas e das literaturas anglo-saxónicas um pouco por todo o mundo, mas neste caso, o mérito é do realizador de cinema. Alfonso Cuáron adaptou a obra 'Great Expectations' para cinema, em 1998.
Desde 1917 que vários cineastas adaptaram o título para a película, mas a melhor das interpretações - que não é necessariamente a mais fiel - é mesmo a de Cuáron. O realizador juntou a sensualidade de Gwyneth Paltrow e a ingenuidade da personagem de Ethan Hawke e conseguiu um filme que dá prazer ver e vontade de rever vezes sem conta. 
Este é um dos raros casos em que o filme supera o livro e acho que neste caso, em grande escala. Gwneth Paltrow (Estella) personifica uma elegante e inteligente mulher, cheia de boas maneiras que a sua 'encarregada' lhe incutiu e ensinou. Regras de boa etiqueta aliadas a uma educação classico-europeia rígida durante a infância e adolescência tornaram Estella numa mulher com poucos amores e muitos dissabores. Ethan Hawke encaixa que nem uma luva na personagem de Finn, criada por Dickens. Num registo bastante mais actual, a obra cinematográfica não perde pontos por não fazer jus ao original do escritor britânico. Atrevo-me até a dizer que melhorou o seu enredo, por possuir personagens que carregam mais robustez e marcas de vivências bem mais delineadas e claras. Se calhar foi só sorte no casting, mas Paltrow e Hawke parecem ter sido escolhidos a dedo para encarnarem Estella e Finn. Na verdade, fazem até um bom casal.
Uma das coisas que mais chama a atenção na película de 1998 são as paisagens intocáveis de um qualquer estado unido onde parte do filme se passa, a casa onde Estella cresceu e a sua tia envelheceu ao longo dos anos, tornando-se numa das figuras mais emblemáticas da história, responsável por incutir determinados pensamentos e teorias e de marcar a vida de Estella com as mesmas. 
Desconhece-se o final de 'Great Expectations' no cinema, mas quer-se acreditar que se trata de um bom final, de um final com significado, já que durante o filme, o autor nos confunde através de jogos psicológicos e sexuais. Confunde amor com paixão e com atracção e leva-nos a pensar que a classe social e intelectual vale mais do que o sentimento. Do final só Cuáron pode falar, mas todos nós somos livres de fazer as previsões. E um filme que vale sempre a pena ver, ainda que não seja tão 'exclusivo' e 'original' como a Árvore da Vida ou os filmes do tão aclamado Almodôvar.
Mais ou menos fatalista, 'Great Expectations' excede mesmo as expectativas e decerto que fará o mesmo a quem gosta de dramas românticos de qualidade. 

Abaixo, deixo o trailer, que pode não exceder as expectativas, mas vai certamente abrir o apetite a quem ainda não está convencido.


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