segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Aquele que queria menos que nada

Porque é que todos os dias queremos coisas diferentes e formas diferentes de ver as mesmas coisas? As coisas são assim e a culpa é nossa. É nossa de as querermos mudar à força e é nossa de nos preocuparmos de mais. Um dia destes ele gostava de não se preocupar. Sim, virar as costas a tudo e simplesmente desligar. Gostava de pegar numa mochila e passar a Ásia a pente fino. Exactamente, de uma ponta à outra. Há qualquer coisa naquela calmaria que o intriga, que o faz querer perguntar a pessoas que não lhe sabem responder. No dia em que desligar, desliga para ti, para mim, para ela e para todos os outros, desliga para o mundo e com o mundo. Vai deixar de se inquietar com notícias sobre catástrofes, de se animar com os novos produtos para estética masculina que e de se preocupar com este ou aquele, que perdeu o gato na árvore, o cão debaixo do carro e o coelhinho na panela. 
Se ele pudesse, fazia como o tipo de 'Café Instantâneo' de Pedro Paixão e "zangava-se. Isolava-se. Passava a não ter relações. Passava a ser um nobre eremita, sem relações íntimas nem ambições. Qualquer ambição sugere-lhe logo a preguiça e a certeza da derrota merecida. Se pudesse tornava-se irascível, sarcástico e impossível de aturar. Em vez de não o convidarem para não se lembrarem dele, passavam a não o convidar por se lembrarem demasiado bem dele. Queria passar a sofrer da solidão de não querer."

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