segunda-feira, 25 de junho de 2012

Macau, quem és tu?

Macau. Essa cidade metida ali entre os gigantes. Estás presa num tempo que não se conta, enraizada numa alma que não se vê, apenas se sente. Tens a vida boémia e tresloucada dos casinos, tens a calmaria do Rio das Pérolas e a serenidade da intocada ilha de Coloane. Tens as vendedoras de frutas e legumes à beira rio, mesmo a um passinho do continente. Tens os montes verdejantes das ilhotas, que respiram ar puro, o único ar puro que existe em ti. O caminho é sinuoso mas faz-se rapidamente. As ilhas não pecam pela grandeza e sempre tens a paisagem. És tão bonita que não consigo descrever-te. Tens tanto em ti que não consigo expressar-me. Assolas-me e deixas-me muda. Deixa-me falar por favor. Deixa-me mostrar-lhes o quão perfeita tu és, quanta história tens encarcerada dentro de ti. Fujo para ti quando preciso de paz, mas não sei bem porquê nem que tipo de paz é essa.
Que se danem os casinos! Quero-te tanto. Quero a tua histeria discreta, a tua felicidade serena, a tua busca incessante por tudo aquilo que ainda vais ser. Não deixes de ser porque eu não te quero deixar. Não te deixes abandonar e mantém a tua alma. Constrói o teu futuro em volta do teu passado. Preserva o Leal Senado e as ruas que dão para as Ruínas de São Paulo. Preserva as lojinhas que vendem carnes com um cheiro nauseabundo. Preserva os mendigos que passeiam de carrinho de compras em riste. Preserva tudo aquilo que me obriga a ser tua. A Caravela e todos os falsos pastéis de nata e coisas parecidas com um café expresso. Preserva as paisagens e os prédios a perder de vista, as casas que parecem barracas e as lojas de antiguidades mais antigas do que as próprias velharias. Preserva a beira rio e o contraste com um trânsito frenético. Preserva os páteos abandonados e sujos, as piscinas públicas abarrotando de pequenos chineses que gritam a plenos pulmões. Preserva os carrinhos de comida muito pouco higiénicos que ganham vida durante a madrugada, depois de noites loucas sem fim à vista. Preserva a humidade fétida que se sente a cada abrir de janela, a cada sair porta fora, a cada passeata pela baixa. 

Estás presa num tempo que não se conta. Mas afinal... Macau, quem és tu?

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