quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Serviço público português, o novo Alentejo

Dia 14 de Dezembro bloquearam-me o carro perto da Av. de Berna. Obviamente mais que chateada com o sucedido, fui correndo até à dita viatura, para poder pagar e seguir para a faculdade. Nisto, leio: "60€" assinalado como preço a pagar pelo desbloqueamento, sem reboque. Ora pois assim fiz. Liguei para o número que o grande papel autocolante amarelo indicava e o atendedor automático lá me disse que sim, que o meu carro iria ser rebocado dentro de alguns minutos. Esperei, esperei e esperei mais um pouco (mentira, foram 45 minutos), até que a carrinha da imponente EMEL chegou. Nisto, preparava-me para pagar os ditos muito mal empregados 60€ de multa, quando o senhor me diz "são 90€, minha senhora" e eu boquiaberta respondi "eu peço desculpa, mas só tenho mesmo os 60€, que era a quantia que estava escrita no papel". "Pois, mas são mais 30€ de multa de falta de pagamento" e assim, apreenderam-me a carta de condução (e já aqui me questiono sobre que autoridade têm para o fazer), dando-me uma guia para poder continuar a conduzir e disseram para depois pagar e levantar a carta na 'MINHA ÁREA DE RESIDÊNCIA'. "Sintra", pensei. Para que não restassem dúvidas, liguei então para a conservatória de Sintra e de seguida, para o registo. Nunca ouviram falar de apreensão nenhuma por parte da EMEL e que não era nada com eles. Posto isto, liguei para o número que a caríssima empresa de pagamento de Lisboa pomposamente exibe nos seus panfletos e declara estar disponível durante todo o dia, até às 18 horas. Encerrando para hora de almoço às 13 horas, liguei ainda da parte da manhã, para poder esclarecer tudo e resolver até ao final do dia. Na verdade, deviam tirar a palavra "atendimento" do horário, porque às 12.30 horas liguei cerca de cinco vezes e ninguém me atendeu, o que só me faz pensar que o almoço dos caros funcionários começa bem mais cedo do que as horas estipuladas. Não tendo conseguido resolver o meu problema, decidi ligar à tarde, por volta das 17 horas. Nessa altura atenderam-me e uma senhora muito pouco educada e muito pouco prestável, informou-me que deveria ir buscar a carta ao 'GOVERNO CIVIL da MINHA ÁREA DE RESIDÊNCIA'. Ora pois que nunca existiu um governo civil em Sintra, portanto insisti que a informação que me estava a ser dada, era errada. Nada consegui mudar, porque a senhora repetiu tudo, como se de um robot se tratasse e como se estivesse a ler algo e não a esclarecer um utente, que é para isso que certamente lhe pagam - e ao que parece, para almoçar mais cedo também. Assim sendo e sabendo que a senhora não tinha em nada contribuído para a resolução do meu problema, recorri à internet e pesquisei por 'governo civil lisboa', pelo que me apareceu um site com dois números de telefone: um da própria sede do governo civil, e outro de um outro posto que trata somente de casos rodoviários. Assim, liguei de imediato para o segundo número do site e o senhor prontamente me indicou o caminho para lá e o horário de atendimento. Fechava às 16 horas e eu cheguei às 15.30 horas, mas mesmo assim tirei senha, esperei a minha vez e fui atendida, unicamente para receber o papel que me indicaria quanto e onde pagar a dita multa. Os CTT eram o local indicado para pagamentos em dinheiro e então lá fui. Entrei numa porta a uns escassos metros e deparo-me com um cenário muito próprio dos serviços públicos: 4 guichets de atendimento: um vazio e 3 deles com funcionárias a trabalhar. Ora pois que havia senhas para determinar a vez de cada um na fila, mas na verdade, era só uma questão de ordem de chegada. Apenas uma das senhoras estava a atender, enquanto as outras duas falavam sobre unhas e pés e mais umas coisas que não apanhei. E lá estava eu, a queimar tempo com mais de dez pessoas à minha frente e duas senhoras a queimarem o seu, com conversas de pés e unhas. Entretanto já passava das 16 horas e o levantamento da carta teria que ficar para outro dia. Conheço - pessoalmente e outros só de vista - vários funcionários públicos que se matam e esfolam a trabalhar para servir as pessoas e para as atender devidamente, mas depois, caem-me casos destes na sopa. 

Tenho outra história muito engraçada, que não me aconteceu uma só vez, mas sim umas três ou quatro, portanto presumo que já seja praxe da casa. É muito raro ir ao centro de saúde e quando vou, é para ir buscar receitas que foram ou antibióticos para a amigdalite própria de todos os invernos. Então isto é o que se passa: São mais ou menos 15 horas e a sala está vazia, os murmúrios por trás do balcão são a única coisa audível. Aproximo-me do dito balcão e a senhora diz-me "Tem que tirar uma senha e aguardar a sua vez" e eu digo "desculpe, mas não está cá mais ninguém..." e ela repete "tem que tirar uma senha e esperar". Faço o que me mandam, mas na minha cabeça, continua a ecoar a minha próxima resposta: "mas não está aqui ninguém para ter que existir uma ordem à base de senhas!". Calo-me, tiro a senha e espero agora a minha vez. Falam da filha que está constipada e que hoje não foi à escola, do marido que tem trabalhado muito e que ontem estava frio e a porta do centro esteve aberta e que era por isso que estavam todos a tossir. A sala continuava vazia e assim continuou até que resolveram chamar-me quando a conversa já estava a saturar. Lá fui e lá me atenderam, a muito custo. 
E assim funciona um dos serviços públicos mais importantes de Portugal. Por meio de senhas que têm obrigatoriamente de ser distribuídas... pela única pessoa que está na sala. 

O tempo que demoraram a ler estes textos, não foi nem perto daquele que gastei a conduzir, telefonar e conversar com pessoas que dizem "servir a população portuguesa", quando no fundo, estão só sentadas, há espera que o tempo passe e que chegue a hora do 'ir embora'. 

1 comentário:

  1. Pede o Livro de reclamações Leo, aponta nomes e descreve os casos, acredito que faça diferença

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